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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Moçambique #54


09-06-2012
Chimoio, Manica, Moçambique

Recomeçou o nosso status de turista, agora numa terra que já não é totalmente desconhecida.

Deixámos Jangamo ao fim da manhã, ansiosas por saber como seria a camioneta onde iríamos passar dez horas enfiadas. As expectativas foram mais que superadas, na companhia Turismo Carlos Oliveira, que mais parecia o interior dum avião. Com direito a lanchinho com sumo Ceres e tudo! Um luxo. Quem testemunhou a nossa reacção ao vermos uma maçã e uma ementa por onde escolher o almoço devia achar que estivemos toda a vida rodeadas de mato e nada mais. Encomendámos um franguinho com batatas fritas logo no início para que, na paragem seguinte, o fôssemos pagar e buscar. Os mantimentos com que nos tínhamos armado ficam para outras núpcias. Claro que este não é o transporte standard e os Freis mimam-nos muito. Não são as que se vêm a cair de podre, janelas todas abertas com as malas seguras por uma corda no tejadilho.

No caminho, houve tempo para ler quase metade do Cem Anos de Solidão, conversar e ver a paisagem. Passámos pelo Rio Save para sair da província de Inhambane e agora a vegetação é diferente, de um verde mais escuro e seco, com embondeiros incluídos e a fazer lembrar O Rei Leão.

O pôr-do-sol e as cores a esta hora são sempre cativantes e, quando ficou tudo escuro, passámos por queimadas muito extensas à beira da estrada, monstruosas, que aqueciam os vidros da janela e iluminavam o mato ao ponto de parecer que o sol estava a nascer lá longe.

Antes de chegarmos à missão, demos boleia, guiados pelo Frei Bambo - "o Frei mais preguiçoso e malandro" - a um casal londrino que andava a viajar há sete meses e estava agora a gozar o último. Já tinham passado pela América do Sul, Central, Ásia, e agora África. Estão quase a ir para casa, não sem antes ver a Tanzânia, o Malawi e o Uganda mas vão ficar sem ver a Etiópia porque o visto necessário para entrar ocupa uma folha inteira de passaporte, e já não têm espaço para isso! Um motivo épico para terminar uma viagem.

O Frei Filipe perguntou o que tinha gostado menos, nesta estadia em Moçambique, o que não estava à espera, e o que me tinha impressionado mais. À primeira, respondo: as viagens de chapa, a venderem peixe lá dentro com um garrafão de combustível poisado em cima, por exemplo. À segunda: a vegetação tão densa e verde, pois sempre imaginei tudo seco e triste. À terceira, só no fim da viagem posso dizer e não vai dar para resumir numa só frase.

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