09-06-2012
Chimoio,
Manica, Moçambique
Recomeçou
o nosso status de turista, agora numa
terra que já não é totalmente desconhecida.
Deixámos
Jangamo ao fim da manhã, ansiosas por saber como seria a camioneta onde iríamos
passar dez horas enfiadas. As expectativas foram mais que superadas, na
companhia Turismo Carlos Oliveira, que mais parecia o interior dum avião. Com
direito a lanchinho com sumo Ceres e tudo! Um luxo. Quem testemunhou a nossa
reacção ao vermos uma maçã e uma ementa por onde escolher o almoço devia achar
que estivemos toda a vida rodeadas de mato e nada mais. Encomendámos um
franguinho com batatas fritas logo no início para que, na paragem seguinte, o fôssemos
pagar e buscar. Os mantimentos com que nos tínhamos armado ficam para outras
núpcias. Claro que este não é o transporte standard e os Freis mimam-nos
muito. Não são as que se vêm a cair de podre, janelas todas abertas com as
malas seguras por uma corda no tejadilho.
No
caminho, houve tempo para ler quase metade do Cem Anos de Solidão,
conversar e ver a paisagem. Passámos pelo Rio Save para sair da província de
Inhambane e agora a vegetação é diferente, de um verde mais escuro e seco, com
embondeiros incluídos e a fazer lembrar O Rei Leão.
O
pôr-do-sol e as cores a esta hora são sempre cativantes e, quando ficou tudo
escuro, passámos por queimadas muito extensas à beira da estrada, monstruosas,
que aqueciam os vidros da janela e iluminavam o mato ao ponto de parecer que o
sol estava a nascer lá longe.
Antes
de chegarmos à missão, demos boleia, guiados pelo Frei Bambo - "o Frei
mais preguiçoso e malandro" - a um casal londrino que andava a viajar há
sete meses e estava agora a gozar o último. Já tinham passado pela América do
Sul, Central, Ásia, e agora África. Estão quase a ir para casa, não sem antes
ver a Tanzânia, o Malawi e o Uganda mas vão ficar sem ver a Etiópia porque o
visto necessário para entrar ocupa uma folha inteira de passaporte, e já não têm
espaço para isso! Um motivo épico para terminar uma viagem.
O Frei
Filipe perguntou o que tinha gostado menos, nesta estadia em Moçambique, o que
não estava à espera, e o que me tinha impressionado mais. À primeira, respondo:
as viagens de chapa, a venderem peixe lá dentro com um garrafão de combustível
poisado em cima, por exemplo. À segunda: a vegetação tão densa e verde, pois
sempre imaginei tudo seco e triste. À terceira, só no fim da viagem posso dizer
e não vai dar para resumir numa só frase.
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