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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Moçambique #38


24-05-2012


Há-de chegar a altura em que já nem para escrever tenho tempo. É bom sinal.

Hoje foi quase um desses dias, o que se traduz na sensação de já estar cá há muito mais do que, na realidade, estou.

O nosso horário é das 6 e pouco até às 10 e tal, com intervalos para comer. Acordo sempre a pensar "É hoje que tenho malária, de certeza, já me está a doer o corpo!". Mas logo me espreguiço e passa. Hoje mais ainda, que atacou o ácido láctico resultante do jogo de basquete...

Começámos com reunião de professores da qual, felizmente, fomos dispensadas depois de apresentarmos os nossos projectos. Felizmente porque também aqui têm tendência para se arrastar para lá do suportável, pelas horas a que saíram todos de lá.

Fomos então às velhinhas, fazer companhia, conversar... Levámos um livro de fotografias que uma portuguesa que cá esteve fez sobre elas e enviou, levámos um caixote de roupa que estava em casa dos frades para escolherem uma peça cada e ainda aprendemos umas palavras de xitsua através da vovó Aulina, a única que fala português.

Depois da hora de almoço, aula de informática ao 3º ano. O professor disse que nos entregava a chave da sala mas, como não apareceu, trouxémos os 12 alunos para a sala em casa dos frades onde existe um único computador, mais o portátil sobrevivente da Joana. Sala essa que o Frei nos disponibilizou com muita hesitação, afirmando que os miúdos decoram quais as  janelas que estão partidas, invadem a casa, e vêm roubar - toda esta conversa em frente deles. Comecei a encher o saco, tem a mania de se sair com estas... Os miúdos adoraram, mesmo assim, e ficaram fas-ci-na-dos com o Paint. Improviso que resultou!

Combinámos ir com o Frei à Maxixe para comprar bolas para o torneio de futebol que estamos a organizar este fim-de-semana. Eu já estava com pouca paciência para o ouvir, pois vinha contrariado e com pressa, por ter uma reunião às 18:00, quatro horas depois, para ir a um sítio que dista meia! Os saltos do carro numa estrada ainda mais acidentada que o standard moçambicano tornava tudo pior. Demorámos, no máximo, 15 minutos numa loja para comprar os prémios do torneio e outros 15 nos chineses para comprar a bola, e o homem só bufava, dizendo para nos despacharmos. Estivemos o resto do tempo a comprar cimento e a tratar doutros assuntos de Sua Excelência, no meio de mercados loucos e a cheirar a peixe que nem um chapa a caminho de Cumbana. Eu não digo nada e penso sempre que a minha via para a santificação é através dele. À vinda, passámos pela baía, onde o cheiro a mar e a lembrança de férias de Verão passadas, me deu um ânimo tão oportuno.

Assim, chegámos atrasadas à aula que tínhamos às 17:15, mas avisámos, e ainda apareceram uns quantos alunos. Todas as frustrações são imediatamente esquecidas quando tenho uma dúzia de adolescentes ávidos em saber o que vai sair da minha boca e da ponta do pau de giz. Tudo o resto desaparece e o tempo pára. Revimos as preposições, fizemos exercícios, funções sintácticas das frases, distinção entre palavras parecidas e recordei estar no lugar deles e adorar estas matérias. Duplo gozo me deu estar agora do outro lado. Pensei, imediatamente, que vou ter muitas saudades disto, o que raramente me acontece.

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