23-05-2012
Concentração na escadaria da escola às 6:45, como deve ser em todo o colégio interno que se preze (ou o que os filmes fazem querer parecer). Hastear a bandeira nacional, cantar o hino, notícias do país e do mundo e avisos. Adorei o momento, principalmente o das notícias. Não há nada como saber, logo pela fresca que, em Maputo, sobreviveu um gato depois de o deixarem dentro duma máquina de lavar-a-roupa. Fiquei intrigada com o método de pesquisa de informação que eles utilizam mas, mais tarde, vim a saber que são sempre novidades do dia anterior. Fui logo transportada para as minhas queridas manhãs de cafézinho, torrada e jornal na mesa da cozinha em casa.
Já dizia uma sábia professora de Educação Visual que "sem trabalhar, não há trabalho". Só tínhamos que nos começar a mexer se queríamos fazer aqui alguma coisa, e foi o que aconteceu. Apresentámos os planos dos seminários todos, passamos os dias na escola disponíveis para quem precisar, e animação não falta. Houve miúdos a vir tirar dúvidas de Física, Contabilidade, Matemática e a cova começa a não ter fim, cada vez que cavamos nas matérias mais básicas… Não pode ser aceitável que se esteja a dar a distinção entre gasto e despesa ou fórmulas de física sobre energia e força quando eles não sabem multiplicar nem interpretar uma pergunta. Mais vale saberem bem o básico e é isso que estamos a tentar que aconteça. Com o tempo que sobrava andámos a fazer os panfletos para anunciar pela escola, a inscrever os alunos e tratar de tudo para o primeiro seminário, de Inglês.
Mesmo os professores interessam-se imenso por aquilo que possamos vir a ensinar, querem também aulas para eles e já começaram os requisitos. Hoje estive a ajudar o Formador Manuel, director do último ano do curso de Agro-Pecuária, nos exercícios dum curso que ele está a tirar, à distância, de Economia Agrária. É estimulante ver que ele quer saber sempre mais procurando novas maneiras de o fazer, e recordei os conceitos de elasticidade e a tão adorada curva da oferta e da procura. Quis também saber como é que podia organizar os ficheiros no computador, copiar para um cd e ler os e-mails no telemóvel! A Irmã também quis fazer um panfleto da missa para imprimir e outro professor quer uma aula de Inglês para melhorar vocabulário. Venham elas!
O seminário correu muito bem, quis que fosse tudo informal e que eles estivessem à vontade. As salas têm uma luz mais fraca que um vão de escada em Alfama e fazem um eco desgraçado, por isso o melhor mesmo é estarem todos com as carteiras juntas a um metro do quadro e a levar comigo mesmo em cima. Perguntei o que queriam aprender, o que é que já sabiam e tiveram interesse em saber como se começa uma conversa, falámos sobre as partes do corpo e peças de roupa, e alguma construções básicas de frases e preposições. Nos últimos minutos, podiam pôr as perguntas todas que quisessem: um deles começou a cantar, queria que eu traduzisse, a versão dele do “Happy Birthday”; outro cantou uma música com a letra “Happy today / Happy tomorrow / We are celebrating”; outro queria saber dizer “paz”. Interesse não falta, a minha única preocupação era mesmo que eles não quisessem saber nada, que só falassem nas aulas e fossem indisciplinados mas alunos como estes nunca vi. Sempre de olhos esbugalhados, escrevem tudo e repetem, querem aulas a todas as horas livres… já lhes disse que mesmo que me encontrem no corredor, estão à vontade para pôr qualquer questão. No fim da aula, cá fora, brincámos um bocadinho, a falar todos em Inglês, eles a “jingar” connosco com frases do género “The teacher is beautiful, é assim que se diz, não é?” mas sendo que estes são os miúdos mais queridos que existem não podemos deixar de responder “Yes, the teacher and the students are beautiful!”.
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