20-05-2012
Inhampupo foi a comunidade visitada. Não muito longe daqui, com muitos buracos e lombas pelo caminho, esperava-nos um grupo de não mais de 70 pessoas no que, há nem sei quantos anos, teria sido uma escola e, por alguma razão, agora é usada como igreja. Tinham feito um caminho até ao altar delimitado por flores lilases, ao lado do qual estavam dois quadros de ardósia muito desgastados, havia umas quantas secretárias com bancos acoplados e ouvia-se e cheirava-se uma família de morcegos que por ali pairava. São construções fascinantes estas e muitas vezes perco-me a imaginar cenas ali passadas. Bem que o posso tentar fazer, devem ser dois mundos distantes, já que esta escola deve ter sido começada por portugueses e, hoje em dia, admiro-me se as pessoas que aqui moram, da minha idade, não fôr a primeira vez que vêem uma branca.
Enquanto o Frei tinha uma reunião com os papás debaixo da mangueira, nós fomos tentando meter conversa com a juventude local. Falei do que tínhamos vindo cá fazer e perguntei como era a vida por ali. Não difere muito das outras comunidades: todas as raparigas entre os 17 e 26 trabalhavam na sua machamba que dá mandioca, feijão, milho e afins. A diferença é que não havia nenhuma que tivesse um número insustentável de filhos, apenas um ou dois, que são amamentados quer se esteja nestas conversas, na missa, no chapa... É quando fôr preciso e o bebé estiver a chorar, já que chupeta é objecto ainda não avistado.
Tão díspar é o meu nível de conforto agora, ao estar nestes grupos, e nos primeiros dias. Dizendo isto, nunca sei muito bem o que inventar quando sou largada assim numa comunidade durante duas horas antes da missa e tudo o que fazem é olhar para nós e rirem-se imenso. Converso, tiro fotografias, brinco com os miúdos... convive-se.
O almoço foi lá: arroz, massa, e sopa de massa com peixe, e também já nem sequer me faz impressão pensar como terá sido preparado. À volta, passámos pela palhota duma senhora - caminho pelo qual já não devia passar um carro há bastante - que estava doente, já há três anos, e quis receber a extrema unção e confissão. Quando parámos na vila, o carro pifa, o Frei arranja-o, mas parte o capot e assim vamos sem ele de volta para casa.
À tarde, não faltou entretém, quando nos apercebemos que tínhamos deixado a única chave do quarto dentro do mesmo. O Bresneves - sobrinho do Frei Filipe e apelidado assim "por causa do russo" que suponho ser um qualquer "Brejnev" - que cá mora e é um handy man, chamou o carpinteiro, o Manuel, colega dele na escola e tiveram mesmo que partir o vidro da janela para entrar... Tivemos depois que nos mudar para outro quarto que, entre falta de fechadura, de vidro, de rede mosquiteira ou de electricidade havia muito por onde escolher.
Soubémos por umas alunas, que todos os dias de Domingo a 5ª feira há uma hora obrigatória de estudo às 19:30 e decidimos invadi-la para saber que matérias estão a estudar e poder tirar eventuais dúvidas. Não estava à espera que logo neste primeiro dia alguém viesse, realmente, ter connosco, mas uns corajosos vieram-nos interrogar sobre os sujeitos, predicados e todos os complementos circunstanciais, a Português, que eu adorava mas que de muitos já me esqueci. E, a esta hora, não há biblioteca que nos salve, tão pouco internet, eles não têm livro individual e o professor ainda nem sequer tinha dado a matéria toda. Faz-se o que se pode, com aquilo que se tem. Eles ficaram todos contentes, com um trabalho que, de outra maneira, teria ficado quase em branco, mas que foi o máximo que conseguimos explicar, dado que o tema seguinte de estudo era sobre viveiros, canteiros, alimentação cunina e com uma inclinação mais agro-pecuária, nos quais a minha ignorância é rainha.
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