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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Moçambique #46


01-06-2012

Outro dia gigante e com tanto para contar, ando até a atrasar na escrita.

Sonhei com uma cena com uma antiga professora de Português, a professora Filipa, e que juntas ouvíamos o hino aqui da escola, já que os miúdos o estavam a cantar lá fora, de manhã, na realidade. Fiquei a pensar que estou mesmo embrenhada neste mundo, que as aulas de Português me transportam para essa altura que estava eu de frente para o quadro e o quanto gostava das aulas dessa professora. Tenho que lhe enviar um e-mail a contar desta aventura e a agradecer pelas aulas inspiradoras.

Antes de podermos começar a preocupar-nos com o grande evento do ano em Homoíne, havia dois seminários para preparar. O primeiro, sobre métodos de estudo, como melhor tirar apontamentos e fazer e apresentar trabalhos. O segundo, sobre o mundo da Internet, para alunos e formadores. Eles gostaram muito dos dois, intervieram e fizeram perguntas, e apelaram a que nós falássemos com certos formadores para poder mudar os métodos deles, nomeadamente, que não os obrigassem a fazer introduções de 5 páginas e para lhes ensinar a dar aulas que não fossem a maior seca. Disse que eles podiam sempre sugerir-lhes como melhor interagir com os alunos, sem os atacar, para que eles possam melhorar. Se não têm feedback, positivo ou negativo, não vão mudar. Em relação à Internet, queriam escrever os sites todos para ir aos blogs, ver vídeos e filmes, fazer pesquisas, comunicar com amigos ou desconhecidos, comprar e vender e todas as possibilidades que lhes demos a conhecer e que acho serem essenciais, hoje em dia. É uma grande perda estar excluído de tantas oportunidades apesar deles aqui não sentirem falta nenhuma, eu é que já não consigo dispensar, por exemplo, ir vendo as notícias do meu país e do resto do mundo numa das duas únicas aplicações que funcionam no meu telemóvel, o Reuters.

Uma das mil e uma skills desenvolvidas por aqui será, sem dúvida, o desenrrascanço, tão apreciada na terra mãe. Para preparar a banda sonora do show de talentos é preciso recorrer a pens, testar diversas colunas, cd's pseudo-virgens, ir comprar cabos em lojas duvidosas, transferir músicas entre telemóveis por Bluetooth, alugar um microfone à rádio local... Um deles há-de resultar e o show ficou montado, melhor ou pior!
Tínhamos também planeado actuar, para abrir o espectáculo e treinámos cantar, tocar e batucar o "Call Your Girlfriend" da Robyn que logo trocámos para a versão do John Legend do "Rolling In The Deep". Ensaiámos bastante e tinha tudo para correr bem mas deixámo-nos levar pela confusão inicial de começar o espectáculo e decidimos adiar para amanhã.

Foi uma noite comprida, mas os miúdos amaram. Riram-se imenso com teatros que nós, metade, não percebíamos; fizeram capoeiras de eu levar as mãos à cabeça com medo que algum acabasse no hospital; elas e eles desfilaram com o seu melhor swag; dançaram até ao bater do ponteiro, a arte que eles mais dominam e que amanhã, na festa, quero aprender; contaram adivinhas relacionadas com agro-pecuária e matemática; cantaram por cima de raps moçambicanos sem microfone; e houve até uma valsa descalça, com entrada e saída ensaiadas. Ri-me tanto com as actuações, foi uma óptima maneira de, eles e nós, desanuviarmos do muito que trabalhamos e que há mais vida para além do capinanço.

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