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domingo, 30 de setembro de 2012

#1 hoje fui à minha vida e não estava à espera…


que fosse uma hipérbole, do amor do marido duma das minhas coleguinhas pelo Star Wars, ela ter caracteres da língua artificial do filme, gravados no interior da aliança. Só me apercebi que não era uma piada quando já a tinha a dita cuja na mão.


hoje fui à minha vida e não estava à espera…



Era inevitável começar a registar os eventos e as peripécias diárias da minha vida tão diferente da anteriormente retratada, com Moçambiques, Índias, e afins. A vida de fussice no escritório tem me aberto os olhos para o mais trivial, tragicómico e ridículo das aventuras de cada um de nós. Isso, ou já ando a bater mal de passar 8 horas em frente a tanta folha Excel.

Porque hoje fui à minha vida, e uma das contabilistas contrastou a primeira ida à medicina do trabalho com a minha, sendo que a dela foi a preencher dados online, com uma aparelho de medir a tensão ao lado para ela se servir, e a médica do outro lado a querer que ela aproximasse o olho da webcam para confirmar que estava tudo bem. Se não estivesse, a médica informava-a posteriormente, por e-mail.






quarta-feira, 11 de julho de 2012

Moçambique #61


17-06-2012

Um dia digno de ser o último foi o que planeámos e executámos, apesar do melhor vir sempre sem avisar.

Voltámos à feira de artesanato, pois as meninas tinham ouvido falar dos batiks: um pedaço de pano branco onde desenha um artista e vai-se mergulhando em tinta de determinada cor para depois bloqueá-la, com cera, a parte que queremos manter assim. Enceramos logo no início aquelas que queremos manter brancas e vai-se mergulhando em várias cores e encerando. Os padrões são tudo aquilo que tenha um toque africano. E como o mundo não é maior que uma castanha de caju, encontrámos a Viki, que conhecemos em Homoíne, nas redondezas.

Siga de riquexó para a praia que nos disseram ser a melhor, a Marés, na Costa do Sol, a 5 quilómetros da casa. Em termos de beleza natural já sabíamos que não ia ser espectacular mas amei as horas lá passadas. Quase todos os portugueses estavam na esplanada mas esta tinha uma estrada à frente e só então a praia. E como nós já somos praticamente moçambicanas, quisemos o real deal. Abastecemo-nos com um papo seco enorme e quentinho, do centro comercial colado, mais uma coca-cola, e fomos estender as capolanas em frente às dezenas de barracas a vender frango de churrasco e batata frita (aqui pouco existe o conceito de diferenciação), às cadeiras e mesas de plástico e aos comensais locais. Estivemos sempre a mudar de spot porque a maré não parou de subir e cedo não havia espaço para nós e os que queriam jogar à bola! Os miúdos tomavam banho de roupa, os mais velhos bebiam Laurentinas e estas (na praia ainda mais) branquinhas de papo para o ar, como se nunca tivessem estado noutro lugar. Fez-me gostar ainda mais deste país, sentir-me em casa num Domingo à tarde entre amigas.

O fim de dia foi passado em “até já”s, presenciais, telefónicos e escritos, e a fazer a mala.

No aeroporto, encontrei os maiores atrasados até à data, começando pelo segurança do raio X, que perguntou se eu não lhe queria deixar os meticais que me tinham sobrado, passando pelas funcionárias de todas as lojas que não tinham troco e achavam isso normalíssimo, e acabando nos quatro do posto de controlo dos passaportes, que me gozaram à força toda e ameaçaram de multa por causa do visto que tinha expirado ontem. Vão-se fumar, como gostam de dizer! Enfim, valeu a vitória de Portugal a que assistimos com os outros viajantes nos ecrãs espalhados por lá!

Não gosto de conclusões, de resumos, nem de melancolias mas este relato tem que acabar neste dia de regresso. Sei que Moçambique não me vai sair dos ossos e as lições a tirar se devem repercutir para o resto da minha vida. Não me cabe a mim ter já noção de quais as são mas ao tentar deixar aquilo que trazia comigo, levo lembranças de valor incalculável, caras muito amigas, mensagens poéticas no telemóvel e muita, muita dança e alegria. Não há como negá-lo, esta malta dá aquilo que não tem, através duma maneira de viver mais simples que a nossa mas dando valor ao que interessa. Vou com uma pitada de maturidade mas de consciência duma enorme inexperiência em relação a tudo. É como se se tivesse aberto mais uma porta para mim. Vou, mas sabendo que na ida está sempre latente um regresso.

Moçambique #60


16-06-2012


Quem diria que chegávamos a vir a um museu em Moçambique? O escolhido foi o de História Natural, onde vimos muito bicho empalhado, artefactos de tribos africanas de há muitos anos mas que, hoje em dia, se continuam a usar, e ilustrações da fauna e flora com ar do século passado. Mas o meu recanto preferido foi o de um conjunto de embriões de elefante, em várias fases de gestação, conservados em “formaldeído”, acompanhados duma explicação de que tinha sido “o Sr. Carreira a aproveitá-los duma matança, feita por outros, e que hoje isto não seria possível de replicar”. Andámos na nossa vidinha, feitas independentes, com o nosso melhor amigo, o riquexó ou “chopela”. É rápido, fresco, barato e só é pena não haver mais cá nem em Portugal!

Num instante pusemo-nos no mercado central, onde a secção da fruta foi, sem dúvida, a melhor por onde já passei e que, por isso mesmo, me surpreendeu. Aviámo-nos de tudo o que é indispensável levar connosco na mala: caju, cana-de-açúcar, mandioca, e banana-maçã. O mercado tinha também uma parte, maravilhosa, dedicada a cabelos (com, literalmente, baldes de amaciador e tudo quando é cremes), outra de artesanato, peças de mecânica e os mais variados alimentos.

Verdadeiramente tugas e por indicação da Roxanne, amiga conhecida em Lisboa mas de cá, fomos ao restaurante/padaria/pastelaria dos pais dela, o Cristal, para satisfazer os nossos desejos mais profundos de gordas. Tínhamos à escolha: cozido à portuguesa, pastéis de bacalhau, bolos de arroz, marisco… tudo o que nos pudesse apetecer! Eu fiquei-me por um croissant com queijo e uma coca-cola, que me souberam a pato.

Acabámos o dia numa festa da Heineken, no Desportivo na baixa da cidade, promovida pelo irmão Licussa mais velho, com as manas já nossas amigas e que são duma simpatia incalculável, tal como a maioria das pessoas que temos vindo a conhecer.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Moçambique #59


15-06-2012

Estamos a voltar aos poucos para casa mesmo estando ainda em Maputo. É uma boa transição, tendo em conta que a nossa realidade têm sido terrinhas equivalentes a uma Freixo de Espada-à-Cinta.

Conhecemos um senhor chamado Cunha Vaz e a mulher, Fernanda, portugueses nascidos em Coimbra mas que sempre viveram em Moçambique e agora estão em Inhambane, desde há muitos anos. Adorei ouvir as histórias provenientes dos seus mais de 80 anos de vida e ainda os seus projectos para o futuro! Contaram muitos momentos amargos da independência, quando quase tudo o que tinham foi nacionalizado e foram expulsos do país durante algum tempo. Admiro a sua resiliência e capacidade de perdoar e andar para a frente, sem mágoa, apesar de não esquecerem. Agora só pensam em transformar uma propriedade, em Inhambane, num orfanato para meninas dos 5 aos 10 anos, em sociedade com o Bispo, e quiseram os nossos contactos para, quando tudo estiver pronto, irmos para lá trabalhar.

O dia foi em companhia do Frei Evódeo, um homem muito carinhoso e sereno, com uma paciência santa para nos levar a ver os spots da cidade. Passámos pelos caminhos-de-ferro, onde ele nunca tinha ido; por uma loja de artesanato com potenciais lembranças brutais, entre estátuas, caixas e caixinhas, pentes e anéis de pau-preto e pau-rosa, mochilas de cabedal e etecéteras; pela marginal, de seu ar tão bonita e pacífica mas, dizem, perigosa e deserta; e pelo fabuloso Jardim dos Namorados, mais cuidado do que qualquer outro e, só para não abusar, com um banquinho debaixo duma árvore com vista para o imenso mar. Ficámos por lá a tomar um cafézinho e, isto sim, é o meu tipo de turismo.

E como as estrelas têm estado sempre alinhadas para nós, já não bastava um luxo de um banho de água quente saída directamente da boca do chuveiro, a noite foi épica e o extremo oposto do que até aqui temos vivido. O Frei apresentou-nos uma família amiga, os Licussa, que muito amavelmente nos abriram as portas de casa e nos trataram como se fôssemos membros da mesma. Estivemos juntos ao serão, entre chamuças, rissóis de camarão e Lovoka (um vodka de caramelo delicioso) a conversar sobre as nossas vidas, a situação do país e tudo o que vem à baila quando se está entre amigos. Levaram-nos depois ao spot nocturno mais cobiçado, o Ice Lounge, onde o Pito, um dos irmãos, é promotor e fez com que nos sentíssemos rainhas mesmo envergando um outfit bastante “missionário”. Ficámos na parte das mesas com champanhe trazido até nós e no meio do que posso apenas descrever como dezenas de Rihannas. Elas estavam nos trinques, com micro saia ou leggings de cabedal, um dia de salão de beleza em cima, retiradas do que poderia ser um million dollar videoclip americano. Os moves de dança eram fascinantes e eu bem que tentei aprender com as três irmãs da família mas em vão. Fiquei com muita vontade de aperfeiçoá-los em casa para depois poder estar a par com elas! Mexer o corpinho assim é uma arte que liberta e faz muito bem…!

Moçambique #58


14-06-2012
Maputo, Moçambique

Ficámos mal habituadas com o autocarro que nos tinha levado para o Chimoio, que mais parecia um avião. Precisávamos de ter o real deal, e foi o que não faltou!

O Frei quase levou as mãos à cabeça quando olhou para dentro do autocarro mas nós só nos conseguíamos rir. Acordámos às 4:15 e partimos um bocadinho antes das 7:00 do Inchope numa viatura que só consigo descrever como um chapa de 100 lugares ou o que seria a Carris há 20 anos, com amontoados de malas em tudo quanto era espaço sem cadeiras. Ar condicionado é uma miragem, casa-de-banho foi um bidé numa paragem a meio das 14 horas até Maputo, o condutor era vesgo e sempre o mesmo, a velocidade furiosa e, a cada ultrapassagem, parecia que estávamos uma sala de cinema, com o público sempre em suspense e sustendo a respiração. Eu, cada vez que olhava pelo vidro dianteiro, rezava 3 Avé Marias.

A antecipação foi pior do que a viagem em si. Bebi pouca água para aguentar as longas horas sentada; diverti-me a ver o condutor acelerar enquanto alguns faziam as suas necessidades a um metro do autocarro quando este parava para alguém descer; maravilhei-me com os negócios que é possível fazer através duma janela de camioneta; e exasperei com as inspecções a cada mudança de distrito (que consistem num guarda a olhar para os passageiros e, num ou noutro caso, aceitar uns trocos do condutor).

Mas um dos melhores momentos foi, sem dúvida, o manager da camioneta abrir as luzes quando já estava tudo em escuridão total e chamar: “Carolina? Estão a pedir para atender o telemóvel!” pois o Frei Filipe estava a tentar ligar-me e, vendo que eu não atendia, ligou para ele, pois está claro.

Agora estou de volta ao local onde tudo começou e que, na altura, me provocou muitos sentimentos díspares. De dúvida, de motivação, de medo e de curiosidade. Foi uma micro-vida que se deu entretanto. Ainda não tenho respostas, só perguntas: o que será que transformei ou afectei, para melhor e para pior? A quem influenciei e a quem passei despercebida? Como será voltar a casa e um dia regressar a Moçambique? O que mudou em mim e o que é que se mantém? Hoje só sei que as folhas e os lápis escasseiam, que estou quase tão branca como quando vim e que me sinto exausta mas em paz. 

Moçambique #57


13-06-2012

Não há coincidências e, no dia 13 de Junho, estamos numa paróquia apadroada pelo nosso Santo António. 

Temos missa celebrada pelo reitor, o Frei Miguel, da Universidade Católica de Moçambique, a 20 passos do nosso quarto.

É dia de festa, desta vez, não com broa e sardinha mas com frango, porco, batata frita e maionese – um prato dito típico mas que não é mais que a nossa salada russa. Como disse o Frei Filipe, por bebermos “pretinha”, ficamos com os “anjinhos na cabeça”. E se fosse só a Laurentina… é vinho português, espumante, Cutty Sark e Amarulla, um licor sul-africano tipo Baileys, que foi a minha escolha.

Foi um almoço para mais de 100 pessoas, entre alunos, pais, frades e irmãs. Com muita imaginação, fazia lembrar aquele salão de jantar do Harry Potter, com os cabeças da festa numa mesa comprida elevada, virados para os alunos, mas, desta vez, no salão paroquial erigido pelo Frei Vítor que também serve para celebrar a missa.

E não há festa que se preze sem dança e eu já entrei nesse espírito, quer seja para uma marabenta com os alunos ou a passada com um Frei.

Houve até umas peças preparadas pelos alunos: cantaram, dançaram e fizeram teatro (que continuam, para nós, e não somos as únicas, a serem imperceptíveis). Admiro-os muito por criarem sempre estes momentos que trazem sorrisos e muita descontracção. Apenas com um bater de palmas ritmado puseram toda a gente a dançar e a tal “alegria na pobreza” não deixa de ser constatada e é uma lição semelhante a outra que já trazia comigo, de que “só as pessoas entediantes é que se entediam”. E não há razão para não haver entretenimento quando, onde e como quer que seja.

Moçambique #57


12-06-2012

Mudamos de região e parece que estamos na nossa terra. Quase parece outra dimensão, ao vermos uma paisagem tão parecida com Portugal, mas apenas a um passo de distância da casa onde estamos a dormir. Metemo-nos na estrada e só vejo montanhas enormes, com muito calhau, rodeada de pinheiros, eucaliptos e o céu até se encheu de algumas nuvens mais escuras. Não fosse a vastidão imensa, homens, mulheres e crianças a levarem cana-de-açúcar à cabeça e os constantes chapas entre Chimoio e Machipanda, diria que estava na A8 a caminho de Coimbra.

Fomos visitar Manica e o Frei Calisto que nos levou à quinta monumental que estão a tentar reabilitar. São 150 hectares de terra fértil, com um riacho à entrada e todo o tipo de árvores já crescidas, entre elas abacateiros e lichieiras. É preciso muito trabalho para pô-las a render e o Frei diz que, primeiro, é necessário ter lá guardas já que, à noite, há quem venha roubar a fruta e, como aconteceu recentemente, as tubagens que transportam a água.

Houve ainda tempo, pela manhã, de ir, literalmente, pôr um pé no Zimbabwe e voltar para almoçar na missão. Comemos peixe de rio, que os Freis adoram, mas que não é, de todo, o meu cup of tea.
De seguida, a tão esperada e falada visita à farmácia natural das Irmãs! Em Msika, chama-se Centro Salvatoriano deTerapias Alternativas, e quem nos guiou por este sítio fascinante foi a Irmã Gladys. Fez-nos uma consulta e aprendemos muito sobre bons hábitos alimentares e de saúde, tais como: que não devemos beber nada gelado às refeições pois solidifica a comida e gordura no estômago, dificultando a digestão, a absorção do que é bom e a eliminação do que é mau; que devemos comer 60% de alimentos básicos e 40% de ácidos, quando fazemos o contrário; e os produtos animais devem ser consumidos o menos possível.

A farmácia tinha um cheiro muito calmante, vindo das milhentas ervas lá vendidas, que curam, basicamente, tudo. Trouxe umas para fazer chá e melhorar a pele, denominadas Parinari e Nim mas que também servem como “Depurativo do sangue, esterilidade masculina e feminina, malária, tónico cardíaco, pneumonia, febres, doenças respiratórias, reumatismo, diurético”, a primeira e “Malaria, fungos, diabetes, dermatites, diarreia, vermífuga, espermicida, antibacteriana, ulcera, antiviral, eczemas, psoriase, tumores, abaixa a tensão arterial, cândida, anti-térmica, micoses, membranas, mucosas, pulmão, intestino, salmonela”, a última. Assim fica já tudo despachado, just in case. Trouxe ainda uma pomada para a cara, dois frasquinhos de ginseng para a fadiga e moringa (claro!), que também cura o que se tem e/ou possa vir a ter e já o sabíamos devido aos ensinamentos contínuos e promoção das propriedades miraculosas da mesma, transmitidas pelo Frei Filipe. A 50 meticais cada, se não resultar, não há-de fazer assim muito estrago… não é? Espero que com tanto saco de erva verde não nos retenham no aeroporto.

Moçambique #56


11-06-2012

In the jungle, the mighty jungle..!

Esta terra não pára de me surpreender. A beleza natural é imbatível e indiscutível. No Parque Nacional da Gorongosa, conseguimos ver as paisagens mais maravilhosas, sem falar dos animais! O Frei Filipe acompanhou-nos (e dá sempre ar de ser o nosso guarda-costas) e alugámos um jipe com os bancos elevados e sem vidros que levam até dez pessoas. Como tínhamos falado para lá com antecedência para ir a uma hora fora do habitual e é época baixa, ficámos com o carro só para nós, tal como o guia, que não poderia deixar de ter outro nome que não, Simba!

A atracção principal é o poder vislumbrar os grandes animais da selva, como o leão, o búfalo e o elefante. Nós conseguimos ver um deles, mas não sei se não gostei mais da vegetação e das árvores gloriosas ao nosso redor. Parece que, a cada vinte minutos, estava noutro país, noutro cenário, mas sempre de fazer cair o queixo. Desde um mais verde e escuro, outro pantanoso e húmido, outro seco e de tons terra, com muitos pontinhos pretos de árvores e animais, com embondeiros e acácias amarelas... Não havia como enjoar e chegou a um ponto em que parecia estar numa espécie de hipnose, com tanto cenário incrível de seguida. Os animais que os habitam são a cereja no topo do bolo. Muito nos rimos a avistar os facoceros e a gritar "Olha o Pumba! Olha outro Pumba!" e eles a "sorrirem" para nós; a tirar fotografias aos impalas (que não eram o Bambi, diz o guia) e eles a fazerem pose; os diferentes macacos sentados na árvore; um tipo de pássaro lindo com cores desde o azul ao cor-de-rosa; e, ao regresso, quando já estávamos saciados, o Simba conseguiu encontrar dois elefantes que também me deram um momento, só um, para fotografar.

Também não podíamos ter ido em melhor companhia, com o Frei que é doido pela vida selvagem e ia contando pormenores sobre as espécies. Outros dos seus temas de eleição também veio ao de cima: que o parque não estava totalmente repovoado por causa da guerra e que a estrada até lá está num estado lastimável porque nesta região ninguém vota Frelimo e, assim, o Governo não investe no que é uma das maiores atracções do país e do continente. 

Moçambique #55


10-06-2012

"Como me viaja!" é uma expressão daqui que eu adoro. Pode ser usada, mais frequentemente, para nos referirmos a uma pessoa, mas não só.

Voltadas às viagens, hoje, Domingo, foi mesmo dia de laró. Depois da missa aqui na Igreja ao lado da casa, tive um mata-bicho de rainha, com ovos mexidos, queijo, pão, chá verde, café... Esta casa aqui é um luxo, com televisão por cabo e Laurentinas no frigorífico.

O Frei Filipe prometeu levar-nos à Cabeça do Velho, um conjunto de umas quantas montanhas, que, duma certa posição, tomam – adivinhe-se – o perfil da cabeça dum velho. Aparecem duma planície muito vasta e alisada, vêm-se aqui do centro da cidade. Foi a montanha mais fácil a que alguma vez subi e com uma vista muito diferente do habitual no Gerês ou na Serra da Estrela. Em 25 minutos, nem isso, estávamos no cimo e a ver toda a cidade, uma serra maior lá longe, as queimadas das populações espalhadas pelo mato... Foi uma grande sensação, estar lá em cima. A terra tinha outra cor, já não argilosa, mas a mais comum para nós, a castanha, por estar ao pé dum pântano.

O Frei também adorou ser o nosso fotógrafo profissional no cume e nós aproveitámos. Tirámos mais fotografias juntas do que em quase dois meses! Ele é que orientava o ângulo melhor, a pose, a pedra ou a árvore onde devíamos estar empoleiradas.

Continuo a achar muito peculiar o quanto toda a gente acredita nos espíritos e se guiam pelas suas vontades. Todos diziam que a montanha é lugar de peregrinação para fazer rituais e sacrifícios para afastar o mau-olhado e encontrámos um grupo a gritar uns impropérios não sei bem com que propósito. O melhor é quando, com um encolher de ombros, dizem "Isto é África, onde há espíritos... Lá na Europa não há nada disto, de certeza, pois não?"

Moçambique #54


09-06-2012
Chimoio, Manica, Moçambique

Recomeçou o nosso status de turista, agora numa terra que já não é totalmente desconhecida.

Deixámos Jangamo ao fim da manhã, ansiosas por saber como seria a camioneta onde iríamos passar dez horas enfiadas. As expectativas foram mais que superadas, na companhia Turismo Carlos Oliveira, que mais parecia o interior dum avião. Com direito a lanchinho com sumo Ceres e tudo! Um luxo. Quem testemunhou a nossa reacção ao vermos uma maçã e uma ementa por onde escolher o almoço devia achar que estivemos toda a vida rodeadas de mato e nada mais. Encomendámos um franguinho com batatas fritas logo no início para que, na paragem seguinte, o fôssemos pagar e buscar. Os mantimentos com que nos tínhamos armado ficam para outras núpcias. Claro que este não é o transporte standard e os Freis mimam-nos muito. Não são as que se vêm a cair de podre, janelas todas abertas com as malas seguras por uma corda no tejadilho.

No caminho, houve tempo para ler quase metade do Cem Anos de Solidão, conversar e ver a paisagem. Passámos pelo Rio Save para sair da província de Inhambane e agora a vegetação é diferente, de um verde mais escuro e seco, com embondeiros incluídos e a fazer lembrar O Rei Leão.

O pôr-do-sol e as cores a esta hora são sempre cativantes e, quando ficou tudo escuro, passámos por queimadas muito extensas à beira da estrada, monstruosas, que aqueciam os vidros da janela e iluminavam o mato ao ponto de parecer que o sol estava a nascer lá longe.

Antes de chegarmos à missão, demos boleia, guiados pelo Frei Bambo - "o Frei mais preguiçoso e malandro" - a um casal londrino que andava a viajar há sete meses e estava agora a gozar o último. Já tinham passado pela América do Sul, Central, Ásia, e agora África. Estão quase a ir para casa, não sem antes ver a Tanzânia, o Malawi e o Uganda mas vão ficar sem ver a Etiópia porque o visto necessário para entrar ocupa uma folha inteira de passaporte, e já não têm espaço para isso! Um motivo épico para terminar uma viagem.

O Frei Filipe perguntou o que tinha gostado menos, nesta estadia em Moçambique, o que não estava à espera, e o que me tinha impressionado mais. À primeira, respondo: as viagens de chapa, a venderem peixe lá dentro com um garrafão de combustível poisado em cima, por exemplo. À segunda: a vegetação tão densa e verde, pois sempre imaginei tudo seco e triste. À terceira, só no fim da viagem posso dizer e não vai dar para resumir numa só frase.

Moçambique #53

08-06-2012

De volta à nossa casa mãe, Jangamo. Parece já ter sido há tanto tempo que daqui saímos…

Fomos matar saudades das nossas queridas irmãs e dos nossos meninos. Ficaram muito contentes, apreensivos ao princípio, e os miminhos foram mais que muitos e de encher o coração. Foi tão bom receber os abracinhos, festinhas e sorrisos carinhosos deles! Se me deixassem, levava uns quantos no bolso. Foi um momento muito especial.

Almoçámos com as Irmãs Teresa, Arminda e Lucília que nos mimaram, mais uma vez, e tirei a barriga de misérias com o concentrado de maracujá e biscoitos caseiros. A Irmã Teresa vai já esta semana para Portugal para regressar só em Setembro e, assim sendo, está prometido um encontro para breve. Quanto às restantes... "só as montanhas é que nunca se encontram", como disse a Irmã Lucília. E tem toda a razão. Quem diria que alguma vez ia pôr os pés em sítios, tão longínquos e afastados da minha realidade, como Cumbana e Namaacha, Bongo e Inhampupo?! Os trilhos desta vida não são possíveis de mapear e sempre com mais para oferecer do que aquilo com que conseguimos sonhar...

Antes da última paragem na Maxixe para preparar a viagem ao centro durante esta última semana, conseguimos encontrar o tão desejado piri-piri da Dona Rachida (!), uma produtora local que distribui pelas barraquinhas à beira da estrada. Comprámos o normal - de limão - e um de manga, a 70 meticais cada. Na Maxixe, levantamos dinheiro, a Joana compra uma mochila (já que se entusiasmou e ofereceu a sua no sorteio) e ainda mantimentos, nos chineses (que devem esfregar as mãos de contentes cada vez que lá entramos.

De regresso a casa, dei uma volta até à mangueira para fazer umas fotografias que, pecado capital, ainda não me tinha aventurado pelas redondezas. E apenas por preguiça e falta de coragem porque já sabia que o resultado ia ser bom.

Para terminar o dia em beleza, uma noite de mini-recreação, com frango de churrasco e batata-frita, olhar este céu estúpido e, com as minhas queridas companheiras, recriar cenas já vividas e ver fotografias e vídeos da nossa "aventura no desconhecido".

Como respondeu a Joana, ao que será de nós as duas separadas, "Não somos".

domingo, 24 de junho de 2012

Moçambique #52


07-06-2012
Jangamo, Inhambane, Moçambique

Outro dia de despedida, outro dia frenético.

"Nada é fácil" é uma verdade já confirmada em Moçambique. As pessoas "hão-de ir", "hão-de vir", "havemos de fazer" e o que for, "há-de ser". Nunca com sentido de urgência ou com prazos previamente estabelecidos.

Hoje foi a saga da impressão dos cadernos de apontamentos que queríamos deixar aos alunos com todas as disciplinas e aulas que demos, desde o espanhol ao seminário da Internet. Conseguimos resumir tudo em 24 páginas mas precisávamos de imprimir uma vez para pôr a fotocopiar na escola secundária. Os computadores têm vírus que destroem os ficheiros, a impressora não quer funcionar, as pens não são reconhecidas, a electricidade vai abaixo, não temos o software da impressora... Tudo o que pode acontecer, acontece, e a salvação é um dos alunos ir à vila de bicicleta buscar um cd para usar no computador da Irmã Laurinda com o ficheiro. Desde as 6:30 às 9:30. De seguida, pôr a fotocopiar. O homem assegurou-nos que tinha folhas suficientes, "não tem problema", mas deve ter feito mal as contas, ou não as fez, e achou que uma resma chegava para 2500 cópias... Claro que ao fim dos primeiros dez cadernos ficou quatro horas à espera que o amigo fosse comprar mais. Nisto é hora de nos irmos embora e ainda tinha que faltar o toner. É nestes momentos em que baixamos os braços e nos entregamos à vontade dos elementos. Distribuímos os cadernos que ficaram prontos, o dinheiro para que a Lina pagasse quando estivesse o trabalho concluído e tudo há-de ficar resolvido.

Fomos almoçar ao refeitório com os alunos internos, o que já devíamos ter feito há mais tempo. As condições são as mais básicas, com talheres e copos de plástico insuficientes para servir a todos e, dizem eles, a ementa não variar muito entre xima e feijão e arroz e feijão. Hoje foi arroz com caril de amendoim de peixe, não sei se por ser dia de festa. Organizámos um sorteio das nossas coisas que podíamos deixar, entre roupa, lápis, um guarda-chuva, mochilas e mesmo umas colunas. Ficaram loucos, a cara de felicidade deles foi impagável. O Pupai, um dos alunos que não precisa de fazer nada para que eu queira estar a todo o momento a olhar para ele sabendo que me vou rir, recebeu um guarda-chuva, que achou apropriado levar aberto para a aula seguinte.

Na despedida, escreveram-nos mensagens amorosas, dedicatórias e até lembranças para levarmos. As frases são sempre muito poéticas: "Vós amo como se fossen o meu curação direito. Não me esquenci do voço cabelo", "Vocês foram uma segunda mãe para nós no mundo das ciências" e a história do Bresneves sobre um pequeno-almoço com "pri-pir" entre mim e ele. Disseram que nós os íamos abandonar, que agora iam emagrecer e deixar de conseguir dormir, que temos que voltar... Estes miúdos não existem e até houve choradeira sentida mesmo nos últimos momentos. Hoje estou simplesmente exausta e não consegui ainda absorver tudo e perceber como me sinto, mas de certeza que levo muitos momentos comigo de cada um deles.

No caminho para Jangamo, soubémos que o Frei Filipe ainda estava em Maputo e achámos que assim mais valia voltar para Maxixe e deixar tudo tratado com as fotocópias. Mas o Frei Viegas achou que estava toda a gente a brincar com ele e que nós tínhamos era que ir para Jangamo. Ainda parámos nos chineses para comprar um telemóvel à Lina - que já tem quase 16 anos, afastada dos pais e não consegue falar com ninguém - e a Sofia ofereceu o dela ao Júlio. O Frei também não deve ter achado graça nenhuma e nem sequer se chegou a despedir de nós com mais do que um "Tchau" virando costas... Não é alguém que vamos levar no coração, com certeza, mas também não é nada que não me impeça de dormir.

A Lena telefonou e foi tão bom ouvir a voz dela, já sinto falta dos amigos e família, é sinal que também gosto muito do que me espera em Portugal.

Moçambique #51


06-06-2012

Fomos, mais uma vez, pedir a pen da net ao Director Fadugo - o homem com ar mais assustador à face da Terra - mas vale a pena, para poder enviar uns e-mails, dar notícias e, especialmente hoje, que precisei de fazer um teste online para o processo de recrutamento da Philip Morris. Não estava com o cérebro propriamente descansado, mas teve que ser.

E falando em pedir, não posso deixar de anotar a expressão aqui usada para tudo, o "Estou a pedir". À mesa, "estou a pedir a água"; com a máquina fotográfica, "peço para ver"; para combinar um sítio, "estou a pedir para ser na escola"... Também acho muita graça a usarem só "ainda", em vez de "ainda não". "O almoço já está? - Ainda."

A aula de espanhol, à falta de electricidade foi alumiada pela lua cheia e muito mais divertida. A frase preferida é "A mi me gusta mi cariño/mi novia" e cantámos a música do Pablo Albóran e da Carminho, o "Perdoname" que é sempre uma boa maneira de treinar a pronúncia.

A noite foi de convívio, a trocar mensagens de despedida, a "trançar" e a criar contas de e-mail e Facebook para a malta. 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Moçambique #50


05-06-2012

Aula de informática? Não tínhamos chaves. Aula de matemática? Não havia luz. Ir ter aulas na carpintaria? Estavam eles em avaliação. Há sempre outros programas, é o que vale. Em vez disto, estivemos a jogar basket, a conversar com os miúdos e a assistir à chegada da nova aquisição da escola - uma iguana/crocodilo que um dos professores tinha apanhado no rio e trouxeram-no para ser estudado.

Voltámos a cumprir a nossa função de bibliotecárias, desta vez também "conselheiras profissionais". Vinham falar connosco e nós perguntávamos o que é que eles gostam, o que é que se imaginavam a fazer no futuro, onde, como é que lá podiam chegar... Nós falávamos da nossa vida, o que é que tínhamos feito até agora e de oportunidades que pudessem ser adequadas para eles. Foi mais uma conversa de amigos e a maior parte quer casar, ter filhos, a sua machamba e, eventualmente, criar um negócio de agro-pecuária. O Arlindo dizia que queria ir para Portugal.

Eles estavam mortos por tirar fotografias, na machamba que eles fizeram aqui na missão e connosco. Fizemos uma shoot no meio das alfaces, das cebolas e das couves, das quais eles estão muito orgulhosos e estão, realmente, preciosas. As fotografias, nem se fala.

Entrei na casa dos formadores para combinar a noite de cinema e fiquei impressionada. É uma divisão húmida, com muito pouca luz e que serve de escritório - com uma mesa com computador, televisão e outros aparelhos - de quarto, cozinha e sabe-se lá que mais. Um dos alunos, o Sacramento, e filho do formador Manuel, já me tinha dito que os professores ganhavam muito mal e que havia muito poucas vagas, mesmo assim, para os existentes. Isto porque o número de escolas só abrange um número ridículo de alunos comparado com o de crianças e jovens neste país. Que muitos também chegavam à 7ª classe sem saber ler nem escrever, não era estranho.

E a vida na escola também não é pêra doce, pelo menos nesta. Organizámos a noite de cinema, no salão paroquial com uma televisão emprestada e os Piratas das Caraíbas 4 pirateado (!) mas os miúdos pouco duraram até depois das 21:00. Já sabíamos que a Lina se levantava às 4:00 todos os dias menos ao Domingo, mas para pôr as coisas do pequeno-almoço na mesa, tomar banho e engomar o uniforme (mesmo assim, não há necessidade). Mas que todos eles têm que se levantar a essa hora... Só consegui olhar para eles com a maior admiração e perguntar-me o que seria de mim se me obrigassem a levantar para limpar a escola e tarefas do género. Ao meio-dia já eles têm um dia normal de trabalho no corpo! Será que há assim tanto com que os encarregar, 200 alunos, todos os dias? Misericórdia...

Por último, estava a Joana de cama com febre a subir muito rapidamente, e nós a achar que era duma distensão que ela se queixava na perna. Estava a ficar muito preocupada, porque de certeza que não era disso mas também não sabia de quê e não descia a febre mesmo com Brufen. Só depois ela se lembrou que tinha encontrado, há uns dias, uma carraça na perna que tinha deixado marca e lá a minha mãezinha disse para tomar uma bomba antibiótica, que fez baixar a temperatura do corpo quase imediatamente e normalizá-la passadas umas horas. Não me venham dizer que a minha maleta farmacêutica é mariquice e que se deve tratar tudo naturalmente, não.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Moçambique #49


04-06-2012

"Eu estou bem", é como muitos por cá respondem a um "Boa tarde" ou "Bom dia". E, neste caso, aplica-se, eu estou bem.

Para além das aulas, estamos também cá para o convívio e hoje tive uma dose intensiva de conversa de um dos alunos, o Francisco, que tem o dom de conseguir falar durante o tempo que for necessário, encadeando tema atrás de tema duma maneira impressionante e nos deixa de boca aberta mas sem sair uma única palavra.

Ele é um miúdo extraordinário, com uma vontade de fazer incrível e com os mais variados interesses, desde a apicultura ao kung fu. Ficou órfão recentemente mas não se acanha nada em falar disso e tem um espírito muito despachado. Só depois relembrando toda a conversa é que descobri as saídas fabulosas que ele tinha tido, são tantas que não dá para acompanhar e mantenho sempre um ar seriíssimo. "Porque eu pressenti a morte do meu pai quando estava no meu quarto, em Maputo - lá eu estudo com os cadernos em cima da cama, mas também temos sofás - e tenho uma ventoinha - a ventoinha tem vários botões - mas depois desliguei a ventoinha mas ela continuou a dar e era ela que me virava as páginas e, nesse momento, tive uma imagem do meu pai a morrer. Foram à escola e disseram à minha prima mas não disseram a mim e ela estava a falar com a minha tia e disse que o meu pai tinha morrido mas achou que eu não tinha ouvido por causa do meu problema de audição mas eu também fingi que não tinha ouvido. Depois disseram que me estavam a chamar em casa e eu vi lá muita gente reunida e, como ainda era muito infantil, pensei - Será que é um casamento? Porque quando os meus pais se casaram também havia muitas pessoas. Mas depois fui chorar para o meu quarto só que os meus primos apareceram e como eu nessa altura era muito infantil e achava que os homens não choravam, limpei as lágrimas para eles não verem mas não por muito tempo, depois continuei a chorar. Mas depois a família do meu pai queria bater na minha mãe porque dizia que ela é que tinha enviado espíritos para o meu pai para o matar e ficaram todos zangados sem se falar". Falou também da Igreja Universal, de como o Fernando Picane é obreiro e ele próprio só tem poderes por causa da fé dele. Quando a Gina Cabral estava com espíritos, chamaram os dois e o Júlio e o Picane trouxe azeite e água que pôs na Gina e não resultou, então passou a energia para ele e a Gina começou a correr feita louca. Ninguém a conseguia agarrar e, só quando ele passou o poder para o Júlio, é que a conseguiram parar. Outro, de como o trouxeram aqui para a escola, porque ele pensava que vinha para um estúdio de música mas depois passados dois dias viu "Naa, isto não é um estúdio de música!". Ao início não gostou mas depois começou-se a interessar pelos animais e a fazer amigos mas a missão dele é ajudar as pessoas de Nhampopo que são analfabetas. Este rapaz não existe, devia ser filmado.

À noite, com uma lua cheia poderosa, a Sofia deu finalmente a aula de Origami e eu fiquei maravilhada por, com os alunos, aprender a fazer uma caixa! Eles adoraram, mais ainda fazer rosas, corações e sapos enquanto ouvíamos a música que faz furor agora, a "Puxa Mazambane", hit este que quer dizer, "Puxa a batata" e é sobre trabalhar na machamba com um ritmo como eu nunca ouvi, que é impossível não dançar e não nos desmancharmos a rir. Já se tornou o meu toque de telemóvel.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Moçambique #48


03-06-2012

Dia de pseudo-ressaca. O meu corpo quis acordar às 7:00, já está bem treinado, mesmo só com 3 horas de sono, mas obriguei-o a preguiçar até às 11:30. Quando a Lina me disse que acordou às 6:00 para ir à missa sofri muito por ela. Que martírio.

As pernas doem de dançar a passada mas o espírito está alegre e leve.

A professora de Educação Física/Biologia tem estado doente com malária e não pôde vir ao torneio mas, nem isso, nem a chuva, impediram que ele se realizasse. Com os atrasos do costume, jogaram as três equipas entre si. Uma delas, que jogou duas partidas, soube logo que era vencedora antes das outras jogarem o terceiro jogo mas quiseram, mesmo assim, lutar para não ficar em último, para não serem “cuanhamas”, como eles dizem.

Arbitrámos os jogos e entregámos os prémios, uma pulseira de plástico de equipas de futebol, tipo Arsenal e Real Madrid, e uma caneta. Caneta essa que o Fernando amou porque "não é preciso fazer força!", é só rodar a parte de cima para o lado direito e não carregar no topo. Extraordinária!

Mas toda a senhora ressaca pede gordura e, nos trópicos, isso não se altera. Felizmente, foi falso alarme a explosão do fogão e forno por isso aventurámo-nos a fazer um bolo de chocolate. Feito a olho, sem fermento, com uma barra de chocolate dos chineses e uma forma que vazou, o resultado... podia ter sido melhor. Cru, sensaborão e muito denso, deu para amainar a gula que uma salada de frutas, por sua vez deliciosa, não conseguiu afugentar.

Ao lanche, avistei uma garrafa de piri-piri, que andava com curiosidade em provar e que caiu muito bem com pão com manteiga e sal. Era delicioso, não só picante, tem imenso sabor! Mais um kit para levar comigo. Já combinámos que, à volta, vamos fazer uma festa de comida, à gordas assumidas, com tudo o que é bom: pizza, gelado, comida do Nood, bolinhas caseiros... e imediatamente a seguir ir parar ao hospital com uma apendicite e/ou congestão.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Moçambique #47


02-06-2012 

Preparar a rave moçambicana durante o dia, "brincar" à noite!

Fomos comprar os refrescos para os alunos e Laurentinas para os formadores que, inevitavelmente, acabaram também na mão dos primeiros. Dissemos que era só para os maiores de idade e não me parece ter havido algum problema. Claro que as bebidas não foram suficientes para o que viriam a ser 8 horas de festa. Duraram umas 3, se tanto!

Foi até não aguentar mais das pernas, entre lambadas, passadas, marabenta e música internacional, muito dançámos! As miúdas deliravam a dançar com um dos formadores, que eu acho assustador, e todos gostam dos "esquemas", em que fazem todos o mesmo passo, pelo meio. Foi dançar por prazer, para enxotar a tristeza e aperfeiçoar uma arte. Eles são peritos e amorosos em ensinar-nos. O melhor são mesmo os de metro e meio, a dançar com as de um e sessenta e cinco ou, em último caso, agarrados a uma cadeira!

A sala tinha sido decorada com papéis em branco para eles nos deixarem dedicatórias e mensagens de despedida. Trouxemos e guardámos, cada frase é melhor que a outra. "Amo a vida, amo as três garotinhas Sofia, Joana e Carolina idem em paz que o são Francisco de Assis vos acompanhe sucessos para vossa todo vida." e " LEMPRESE DE NOS ONDE ESTIVEREN QUI TANBE VAMOS SE LENBRAR DE VÓS".

Outros acharam por bem que estas fossem privadas e enviaram através de mensagem para o telemóvel. E liam o seguinte: "Decatoria Ja parou para pensar o canto è lindo e orivel uma dspedida a melhores amigas so uma lenbresa ardendo rezumindo as paginas d vida em cada lagrimas deramada d um lindo adeus." e "eu so uma moxa mto social nao xtress cm ninguem apenas sou invegada, mais eu gostei mto de voces, axim k vao embora pdem crer k kuand eu pder irei lgar vos, amo vos. Sofia, carolina e joana"

Precioso.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Moçambique #46


01-06-2012

Outro dia gigante e com tanto para contar, ando até a atrasar na escrita.

Sonhei com uma cena com uma antiga professora de Português, a professora Filipa, e que juntas ouvíamos o hino aqui da escola, já que os miúdos o estavam a cantar lá fora, de manhã, na realidade. Fiquei a pensar que estou mesmo embrenhada neste mundo, que as aulas de Português me transportam para essa altura que estava eu de frente para o quadro e o quanto gostava das aulas dessa professora. Tenho que lhe enviar um e-mail a contar desta aventura e a agradecer pelas aulas inspiradoras.

Antes de podermos começar a preocupar-nos com o grande evento do ano em Homoíne, havia dois seminários para preparar. O primeiro, sobre métodos de estudo, como melhor tirar apontamentos e fazer e apresentar trabalhos. O segundo, sobre o mundo da Internet, para alunos e formadores. Eles gostaram muito dos dois, intervieram e fizeram perguntas, e apelaram a que nós falássemos com certos formadores para poder mudar os métodos deles, nomeadamente, que não os obrigassem a fazer introduções de 5 páginas e para lhes ensinar a dar aulas que não fossem a maior seca. Disse que eles podiam sempre sugerir-lhes como melhor interagir com os alunos, sem os atacar, para que eles possam melhorar. Se não têm feedback, positivo ou negativo, não vão mudar. Em relação à Internet, queriam escrever os sites todos para ir aos blogs, ver vídeos e filmes, fazer pesquisas, comunicar com amigos ou desconhecidos, comprar e vender e todas as possibilidades que lhes demos a conhecer e que acho serem essenciais, hoje em dia. É uma grande perda estar excluído de tantas oportunidades apesar deles aqui não sentirem falta nenhuma, eu é que já não consigo dispensar, por exemplo, ir vendo as notícias do meu país e do resto do mundo numa das duas únicas aplicações que funcionam no meu telemóvel, o Reuters.

Uma das mil e uma skills desenvolvidas por aqui será, sem dúvida, o desenrrascanço, tão apreciada na terra mãe. Para preparar a banda sonora do show de talentos é preciso recorrer a pens, testar diversas colunas, cd's pseudo-virgens, ir comprar cabos em lojas duvidosas, transferir músicas entre telemóveis por Bluetooth, alugar um microfone à rádio local... Um deles há-de resultar e o show ficou montado, melhor ou pior!
Tínhamos também planeado actuar, para abrir o espectáculo e treinámos cantar, tocar e batucar o "Call Your Girlfriend" da Robyn que logo trocámos para a versão do John Legend do "Rolling In The Deep". Ensaiámos bastante e tinha tudo para correr bem mas deixámo-nos levar pela confusão inicial de começar o espectáculo e decidimos adiar para amanhã.

Foi uma noite comprida, mas os miúdos amaram. Riram-se imenso com teatros que nós, metade, não percebíamos; fizeram capoeiras de eu levar as mãos à cabeça com medo que algum acabasse no hospital; elas e eles desfilaram com o seu melhor swag; dançaram até ao bater do ponteiro, a arte que eles mais dominam e que amanhã, na festa, quero aprender; contaram adivinhas relacionadas com agro-pecuária e matemática; cantaram por cima de raps moçambicanos sem microfone; e houve até uma valsa descalça, com entrada e saída ensaiadas. Ri-me tanto com as actuações, foi uma óptima maneira de, eles e nós, desanuviarmos do muito que trabalhamos e que há mais vida para além do capinanço.

Moçambique #45


31-05-2012

Apesar de na noite anterior termos encontrado um homem que, com uma voz sinistra, murmurou: "Esperei por vocês ontem..." e de nos termos apercebido que era o director pedagógico - dono do único acesso à internet por aqui -, o chamamento falou mais alto e fomos ter com ele esta manhã. Ele emprestou-nos a pen, de uso ilimitado e, nos poucos minutos que temos livres e à noite, foi a lócura!

Actualizei o blog, que ficou só com um atraso de 15 dias, apaguei uma carrada de e-mails inúteis, li outros muito queridos da família e enviámos notícias e uma fotografia de cá ao Frei Vítor.

Durante o dia demos aula de informática e francês, esta última fraquinha devido ao pouco domínio da língua e eles também preferem espanhol e inglês. Tenho andado a tentar pôr mais energia nas aulas, nas quais, logo de início, eles estão atentos, mas para que sejam mesmo memoráveis.

A aula de origami não está destinada a acontecer. Era para ser durante o estudo mas os alunos estavam de castigo e ficámos a ver "trançar" a Yolanda e a aprender esta verdadeira arte com aspecto doloroso para quem quer o novo look. Todos os fios de cabelo ficam no sítio certo, ao milímetro, com uma variedade de penteados à escolha. Antes de começarem, é preciso pentearem o cabelo para ficar ao natural e sem produto, ficando ele em pé, hirto, e com um pente pendurado que não cairá nunca. É fascinante, tal como elas acham o nosso, que se "mexe sozinho!" quando está vento.

Para além disso, estivemos também a observar a prática dos desfiles de amanhã para o show "Homoíne Tem Talento". Vai ser um espectáculo.

Moçambique #44


30-05-2012

Manhã de carpintaria, wuhuuuu! E que inspiração trouxe eu de lá! A formadora Marta teve muita paciência a fazer o molde de taus em madeira, a esculpi-los com um serrote de ferro (sim, já o distingo dum universal) preso numa prensa, a lixá-los, e a pôr um gancho de metal no topo para que se tornassem pendentes para pôr ao pescoço. Adorei fazer um, do início ao fim, e quero passar tempo com a mesa de carpintaria que temos em Lamas, este Verão, e produzir outros pendentes, bancos, estantes... o mundo está na ponta dum serrote! Quando lhe apanhar o jeito já não demoro 20 minutos a fazer um tau. Ao contrário desta malta, são todos uns artistas, e fazem tabuleiros, escrivaninhas, bancos, armários...

Na aula de informática, que poderia ter sido igual a muitas outras, dois alunos decidiram que o texto deles no Word devia ser sobre nós, com o título "As minhas amigas", e passo a citar: "As minhas amigas são: Sofia, Carolina, Joana eu gosto delas porque tive a oportunidade de mecher o computador,aprender espanhol, e ter a noção de francês. Direi que na ausência delas irei sentir a falta das aulas de apoio.".

A vila chamava por nós, para despacharmos todos os assuntos que envolvessem compras. Encontrámos uma das Irmãs a ir para lá de carro e saltámos para o caixa-aberta à boleia! "Homoíne tem centro comercial!" dizia o Frei Filipe, antes de virmos. E sim, tem um centro e tem comércio, não é mentira. Mas é uma concentração de barraquinhas que vendem de tudo um pouco, mas todas iguais e, quando começamos a avançar para o coração das "lojas", fica cada vez mais escuro e temos que nos desviar dos produtos e pessoas. Conseguimos comprar os prémios para o torneio de basquete, para o show de talentos e para o concurso no sábado, com muita resiliência e paciência e vimos preços de bebidas e snacks para a festa, e ainda para a mini-recreação privada que queríamos fazer hoje a seguir ao estudo.

Voltámos mesmo a tempo da aula de espanhol, que decorreu em excitação total. Ensinámos as frases básicas para uma conversa e muito nos rimos com as deles. Ficou prometida mais uma para a semana em que já espero ouvir "Si a ti te gusta, a mi me encanta"!

Programámos uma night out mas in, entre nós, e as estrelas alinharam-se. Não nos lembrámos que eles hoje ensaiavam à noite para cantar na missa de amanhã. Assim sendo, mais cedo começa o relax. Que bem soube uma noite no terraço a ouvir música, conversar, de barriga para cima a olhar as estrelas e lua, que se mantêm magníficas, e molhar os lábios com um vodka de 2,30€ a garrafa de litro.

Moçambique #43


29-05-2012

Marcámos com o professor de carpintaria ir assistir à aula dele, nada. Com o director pedagógico da escola secundária para ir à internet, nada. Seria isto que me daria em doida se eu quisesse viver aqui durante mais tempo. Fomos à nossa vidinha, e demos aula de Informática ao 2º ano. Eles agora já sabem mexer no Word e no Paint, mas como têm tão poucas horas de prática, demoram muito tempo a fazer tudo. Decidimos não ensinar nada de novo, apenas deixá-los explorar estes dois programas e deixar que ganhem mão com eles.

O professor de carpintaria lá apareceu, perguntando se nós tínhamos chegado cedo (...) mas redimiu-se ao mostrar um mapa de Moçambique que lhe pedimos para aprender a fazer, mas que logo ele começou sozinho. Disse que ía fazer os outros dois para nos oferecer. Fico toda contente mas lá para ele deve pensar "estas três, coitadinhas, a acharem que chegam aqui e conseguem fazer logo isto". Insistimos que queríamos aprender a fazer taus, pelo menos, e isso ele disse que podíamos vir amanhã.

Às 13:00, outra aula em frente ao computador, desta vez com o 3º ano. Aconselhámos a começar com o Excel que eles vão acabar por dar este semestre. Claro que cada um terá direito, no total, a não mais de duas horas quando acabar o ano por isso é melhor avançar já! Tentei explicar duma maneira que não se tornasse chata e eles pareceram gostar. Fizemos uma tabela, como é que o programa reconhece sequências e reproduz fórmulas, as operações matemáticas com células e eles perceberam que lhes podia dar muito jeito na escola. O Bresneves até veio, mais tarde, dizer que tinha andado a praticar no computador cá de casa!

De tarde, dois jogos de basquete com os alunos para dar energia para uma aula de matemática logo de seguida! Estivemos a dar fracções, como é que se fazem as operações todas e eles até não estiveram mal, com tudo o que tenho ouvido de chumbos a esta disciplina. Hoje ouvi um a dizer que preferia ter aulas com outra que não eu. Fiquei a matutar qual será a razão e, sinceramente, acho que é por eu não andar muito nos tempos livres com eles e por ser exigente quando estou a dar aulas. Vou tentar relacionar-me mais com eles para não criar nenhuma barreira com mais nenhum mas também preciso de tempo para mim, tempo para estar sozinha e em silêncio, não sou nenhuma santa nem tenho prentensões de tal. Gosto muito da companhia deles mas também gosto da minha para poder ser equilibrada.

Mais ainda, quando todas as novidades que chegam agora a nós são de fofoquice nomeadamente, cada um/a ter no mínimo quatro namorados/as ao mesmo tempo, andar com quem não devia e outras ceninhas que nem aqui podem ser escritas com receio que caia nas mãos erradas e a escola, sem exageros, desabe.
Hoje ligou-me mais uma vez a Avó Isabel, soube-me muito bem falar com ela, tenho saudades da minha família. Vou mandar umas mensagens aos meus primos só para encurtar, hoje, a distância, um bocadinho.

Moçambique #42


28-05-2012

Sinto-me num meio familiar e a viver com um horário que não poderia ser diferente, mesmo tendo só passado uma semana destas jiga-jogas que fazemos. A paciência e o auto-controlo continuam a ser postos à prova a cada hora com o convívio permanente, a falta de espaço para nos refugiarmos e de silêncio - que eu tanto preciso - e o cansaço. Nada que não consiga ser gerido quando se trabalha para uma causa maior.

Tínhamos programado ir à internet na escola secundária aqui ao lado, já que a Lina dizia que era só levar o bilhete de identidade e entrar na sala de informática. Já nos tornámos algo cépticas em tudo o que envolva facilidades por estas bandas. Dito e feito. No caminho, encontrámos a turma de 2º ano de carpintaria especada em frente à sala de computadores afirmando que tínhamos aula com eles. Toca de ligar ao professor de informática quem, na verdade, lhes ia dar aula, e estava ele a vir de Maputo. Não os íamos deixar ali a olhar para o ar, mais uma aula enfiada no nosso horário. Depois de encontrarmos a escola secundária, o professor de informática não sabia onde estavam as pens ou se funcionavam, temos que falar com o director pedagógico, que agora está em reunião, "é só fazerem um compasso de espera". Moving on.

Teoricamente, os alunos nunca têm tempo livre durante todo o dia, a não ser para almoçar, mas não é raro encontrá-los a vaguear por variadíssimas razões. A meio da manhã, estavam uns assim, porque alguns professores não tinham acabado a reunião na semana passada e retomaram hoje. Siga uma aula de Francês improvisada, para uns 20, que foi de uma hora e já não foi mau, bem que puxei pela cabeça. Demos os números, conversação básica, enfatizei a pronúncia com todas as minhas limitações e ensinei as cores excepto o amarelo, que não me lembrava.

Chegamos a casa para almoçar e somos presenteadas com a feliz notícia que a cozinheira não tinha vindo, isto ao meio dia, com aula daí a uma hora e numa cozinha moçambicana franciscana (o que faz toda a diferença). A minha mãezinha já tinha dito que não podíamos sair de cá sem comer mandioca frita e foi isso que tentámos fazer. Cortada às rodelas com sal e ketchup, acompanhada com um ovo estrelado e pão, foi o nosso almoço a imitar fast food. Bem bom para desenjoar, há mesmo males que veem por bem!

Depois de mais uma aula de informática patrocinada pelo primeiro Redbull aqui (e que o meu irmão ficaria orgulhoso em como consigo pôr a funcionar 6 computadores ao mesmo tempo numa sala a meia luz e com cabos a saírem por todo o lado) a minha imunidade à cafeína é maior e e consigo refugiar-me num dos muitos quartos desta casa e "sonecar". Adoro ir para lá, o quarto cheira exactamente à casa de Quiaios, e não há sítio melhor para recuperar energias.

Sai mais uma batelada de panfletos a avisar as aulas desta semana e uma aula de português. Não me canso destas últimas, podia dá-las o tempo todo. No fim, tivemos um tempinho para conversar e os alunos estavam muito curiosos em relação à nossa vinda para cá, se era algum estágio, se depois iríamos reportar o que tínhamos visto cá, o que é que fazíamos e faríamos em Portugal, se há algum sítio por lá sem electricidade ou pobre... Gostei muito de lhes falar da minha vida, pois é mesmo uma realidade que eles não conhecem. Tentei explicar que ter 200 euros na Índia era muito diferente de os ter em Portugal ou em Moçambique, que havia zonas ricas e pobres em Portugal mas quase todas com electricidade, que éramos considerados pobres para a Europa mas mais desenvolvidos que Moçambique apesar desta pobreza ser relativa porque qualquer pessoa aqui consegue sobreviver já que o que não falta é terreno fértil e sol para plantar e depois comer. Pouco ou nada sabem sobre o nosso país, só aprenderam os reis e História da qual já nada se lembram.

Temos andado a matutar qual será, antes de qualquer solução, o verdadeiro problema das zonas que temos conhecido. Eu penso que nós é que vimos dos tais 1% e que o resto do mundo não é assim nem podemos esperar que o seja. Não podemos trazer para aqui os nossos padrões e sonhar que alguns alunos saiam daqui para ir ter uma carreira de sucesso ou serem génios numa qualquer área importante. Muitos destes alunos vivem em condições que, se fôssemos nós, a última coisa que queríamos era estudar, com pais analfabetos e, a meu ver a parte crucial, com um sistema de ensino que pouco os motiva ou lhes serve.
Temos que ser realistas e não podemos achar que algum benefício virá quando um aluno tem uma aula de biologia por semana e tem 20 disciplinas diferentes. Acho que se eles se querem especializar, como o fazem no ensino técnico, que fiquem, pelo menos, a saber muito bem as disciplinas que lhes vão ser úteis. Não é por terem 30 aulas de filosofia ou química na vida que vão ficar mais iluminados nem sequer se vão lembrar delas. Sejamos práticos e, se eles quiserem saber mais sobre essas áreas, podem sempre pesquisar, estudar e interessar-se por vontade própria, que é como se aprende melhor. Mas calculo que nada disto seja politicamente correcto, que lhes devem ser abertas todas as portas e áreas do conhecimento. Tenho muita pena, mas isso não funciona. Ficam apenas a saber nada de tudo e o potencial dos miúdos está lá todo.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Moçambique #41


27-05-2012


Acordei tarde, às 7:00, e queria um Domingo relaxado, como eles devem ser, e consegui. Só faltou mesmo ovos mexidos e iogurte, os desejos de hoje para uma manhã perfeita.

Relembrando os fins-de-semana intermináveis em Lamas, pus-me a vasculhar as cassetes que os Freis cá têm. Tal como em Jangamo, 98% são filmes de pancada pura ou então de teor beato. Eu ando à cata dos 2%. Encontrei um realizado pelo Riddley Scott, com o Gérard Depardieu sobre o Cristóvão Colombo que mais que se enquadrava nos critérios, já de si, pouco exigentes.

Assistimos à final do torneio dos rapazes, entre o 2º e o 1º ano. Contra todas as probabilidades, mas com toda a justiça, ganharam os mais novos, num jogo emocionante de ver. Uns mais bruta-montes que chutam a bola para qualquer parte do campo, outros com a técnica toda e ainda uns que têm medo de partir as pernas e tornam tudo mais divertido. Para além de uma das equipas estar com o equipamento do Arsenal/oficial-da-escola vestido, mas sem chuteiras, e alguns terem apenas um ténis e uma meia num pé, partilhando o "extra" com algum que chutasse com o pé contrário ao deles. Distribuímos depois os prémios aos vencedores.

Às meninas oferecemos um verniz, uma caneta e um caderno e a eles os últimos dois e uma bola de plástico pequena. Achei piada ao facto de vir um jornalista da rádio local cobrir o evento e referir-se a nós como "as patrocinadoras".

Surpreendentemente, muito se queixaram os que tinham perdido por não terem prémio de consolação e "terem jogado para nada". Nós temos que manter a calma e não, simplesmente, virar costas e ignorar, menos ainda puxar do chinelo e mão na anca. Fizemos o nosso papel dizendo que o importante é jogar e eles ainda vieram com a conversa que para a próxima não se inscreviam. Também há miúdos mimados aqui, nunca me iludi a pensar que são só meninos puros, queridos e de sorriso na cara. Não estamos noutro planeta, só noutro continente.

Um deles dizia-me que "moçambicano não pode ver o irmão bonito ou rico". Não sei se é tão extremo ou é simplesmente um mal mundial e intríseco à raça humana.

Moçambique #40


26-05-2012

Chega o fim-de-semana mas, estando nós no local de "trabalho", isso não quer dizer nada. Continuam as actividades, as aulas, acrescentadas ao trabalho pastoral do Frei, a quem acompanhamos.

A chuva pregou-nos uma partida aquando do torneio de futebol masculino e feminino mas nós pregámos-lhe outra logo de seguida já que começou tudo atrasado e, no momento em que se dava início ao primeiro jogo, parou de chover. As balizas são os esqueletos de metal, que devem ter sido feitas cá, e o campo de terra batida. Ténis nem vê-los, quanto mais chuteiras. Nada que impeça os rapazes de jogarem que nem homens grandes e darem um bom espectáculo! Nas palavras duma aluna, ao comentar o que nós chamamos "carga de ombro": "Eh, esse mete muito punho. Aplicou xima e feijão!". A bola que comprámos no chinês, as únicas em toda a cidade da Maxixe, começou a dar de si com os primeiros chutos...

As nossas meninas falam, falam, falam, falam mas no fim... Estavam muito indignadas porque queriam que os rapazes vissem o jogo delas, queriam escolher a equipa, o campo, não queriam jogar ao sol, tudo para depois não conseguirem, nenhuma delas, acertar sequer na bola. Bola essa que já era chamada de "papaia" pois estava-se a transformar numa elipse dada a qualidade excelente do material que a revestia. Deu para nos rirmos muito.

Nas bancadas, visitou-nos uma tarântula e põem-se fofocas em dia. Já começámos a conhecê-los um a um e, com isso, inevitavelmente, os dramas novelescos. São todos muito dados às demonstrações de afecto. Por exemplo, a professora de Educação Física anda de mão dada com os colegas professores mas tem namorado em Maputo tal como é normalíssimo dois rapazes entrelaçarem mãos quando passam no corredor a caminho das aulas ou andarem rapazes e raparigas todos abraçados, um diferente cada dia.

Já sabíamos que o Frei Evódeo vinha fazer uma visita ao almoço mas também tivemos a agradável surpresa de ver o Frei Filipe. Parece que deixámos Jangamo há já tanto tempo, sem falar da nossa estadia em Maputo, que parece ter sido noutra vida. Foi muito bom conversar com eles e melhor saber que eles estão sempre preocupados connosco e disponíveis para qualquer eventualidade. Alterámos os planos de viagem, prolongando, por vontade nossa, a estadia cá em Homoíne, de maneira a que consigamos fazer as aulas todas com os temas que queremos, sem andarmos que nem galinhas doidas e a encavalitar tudo.

Os do primeiro ano, que nunca tinham tocado num computador até ontem, quiserem mais uma aula de informática e assim foi. Desta vez de uma hora e meia e continuámos a mostrar-lhes as funcionalidades básicas do Word e, sempre a excitação total, do Paint.

Eu queria descansar nestes dias, estava a sofrer por antecipação por termos a vigília de Pentecostes hoje, das 17:00 às 22:00, no mínimo, pois o Frei Viegas fica lá até amanhecer. As minhas preces foram ouvidas e, o Frei Abel, que nos levaria, não percebeu que nós estávamos a dar aula até às 17:00 e foi-se embora minutos antes de nós sairmos. Que alívio, sinceramente. Acho que tinha passado mesmo mal se tivesse ido.
Assim sendo, ficámos no convívio com os cá de casa, introduzimos a Lina ao fenómeno Harry Potter em VHS e a Joana esteve a traduzir os poemas românticos de um dos rapazes do internato, o Fernando, para Inglês. São uma pérola...

Moçambique #39


25-05-2012


Os dias não páram para nos ver trabalhar e as horas parecem sempre curtas. Um dia comporta uma imensidão de actividades que, em casa, nos ocupariam por uma semana.

O professor Campião, director do internato, também está a tirar o curso de Economia Agrária à distância, então dava-lhe muito jeito saber introduzir tabelas e fórmulas básicas no Excel e conceitos como o custo marginal, por exemplo. Os alunos do primeiro ano, nosso 8º, nunca tinham sequer tocado num computador e foi uma delícia ver os olhos deles brilharem quando criavam pastas no ambiente de trabalho e pintavam o nome com uma cor, no Word. Para contrariar a sentença de que santos da casa não fazem milagres, introduzi a Lina - sobrinha do Frei Viegas e estudante na escola secundária da 10ª classe - a Francês, com todas as minhas limitações mas boa vontade. Na aula de apoio de Português, cobri a matéria que ainda não tinham dado, dos determinantes artigos definidos e indefinidos e dos possessivos, para além de tirar dúvidas existenciais, tais como o significado das palavras "óbvio", "gaiatice" e "catrapiscar". É muito recompensador quando eles veem à biblioteca ou nos encontram no corredor e exigem que haja mais aulas de qualquer que seja a disciplina, matéria ou hora!

Houve também lugar para aprender e observar alguns na aula de carpintaria, a fazer cómodas e portas de armário, e ficou a promessa de que, na próxima semana, nos ensinariam a fazer taus e pendentes do mapa de Moçambique! O professor Nilton também avisou que a Internet no telemóvel era muito barata, ao contrário do habitual, e descobri que a minha bomba tecnológica consegue abrir o Facebook, quem diria! O e-mail é que já é outra conversa.

Infelizmente, nem tudo são rosas e o corpo já pede descanso. Não sei se por ser 6ª feira, mas na aula da noite, quando me levantei de repente comecei a ficar muito zonza e mantive-me sentada o resto do tempo. Amanhã obedeço e tenho que arranjar tempo para descansar.

Moçambique #38


24-05-2012


Há-de chegar a altura em que já nem para escrever tenho tempo. É bom sinal.

Hoje foi quase um desses dias, o que se traduz na sensação de já estar cá há muito mais do que, na realidade, estou.

O nosso horário é das 6 e pouco até às 10 e tal, com intervalos para comer. Acordo sempre a pensar "É hoje que tenho malária, de certeza, já me está a doer o corpo!". Mas logo me espreguiço e passa. Hoje mais ainda, que atacou o ácido láctico resultante do jogo de basquete...

Começámos com reunião de professores da qual, felizmente, fomos dispensadas depois de apresentarmos os nossos projectos. Felizmente porque também aqui têm tendência para se arrastar para lá do suportável, pelas horas a que saíram todos de lá.

Fomos então às velhinhas, fazer companhia, conversar... Levámos um livro de fotografias que uma portuguesa que cá esteve fez sobre elas e enviou, levámos um caixote de roupa que estava em casa dos frades para escolherem uma peça cada e ainda aprendemos umas palavras de xitsua através da vovó Aulina, a única que fala português.

Depois da hora de almoço, aula de informática ao 3º ano. O professor disse que nos entregava a chave da sala mas, como não apareceu, trouxémos os 12 alunos para a sala em casa dos frades onde existe um único computador, mais o portátil sobrevivente da Joana. Sala essa que o Frei nos disponibilizou com muita hesitação, afirmando que os miúdos decoram quais as  janelas que estão partidas, invadem a casa, e vêm roubar - toda esta conversa em frente deles. Comecei a encher o saco, tem a mania de se sair com estas... Os miúdos adoraram, mesmo assim, e ficaram fas-ci-na-dos com o Paint. Improviso que resultou!

Combinámos ir com o Frei à Maxixe para comprar bolas para o torneio de futebol que estamos a organizar este fim-de-semana. Eu já estava com pouca paciência para o ouvir, pois vinha contrariado e com pressa, por ter uma reunião às 18:00, quatro horas depois, para ir a um sítio que dista meia! Os saltos do carro numa estrada ainda mais acidentada que o standard moçambicano tornava tudo pior. Demorámos, no máximo, 15 minutos numa loja para comprar os prémios do torneio e outros 15 nos chineses para comprar a bola, e o homem só bufava, dizendo para nos despacharmos. Estivemos o resto do tempo a comprar cimento e a tratar doutros assuntos de Sua Excelência, no meio de mercados loucos e a cheirar a peixe que nem um chapa a caminho de Cumbana. Eu não digo nada e penso sempre que a minha via para a santificação é através dele. À vinda, passámos pela baía, onde o cheiro a mar e a lembrança de férias de Verão passadas, me deu um ânimo tão oportuno.

Assim, chegámos atrasadas à aula que tínhamos às 17:15, mas avisámos, e ainda apareceram uns quantos alunos. Todas as frustrações são imediatamente esquecidas quando tenho uma dúzia de adolescentes ávidos em saber o que vai sair da minha boca e da ponta do pau de giz. Tudo o resto desaparece e o tempo pára. Revimos as preposições, fizemos exercícios, funções sintácticas das frases, distinção entre palavras parecidas e recordei estar no lugar deles e adorar estas matérias. Duplo gozo me deu estar agora do outro lado. Pensei, imediatamente, que vou ter muitas saudades disto, o que raramente me acontece.

Moçambique #37


23-05-2012

Concentração na escadaria da escola às 6:45, como deve ser em todo o colégio interno que se preze (ou o que os filmes fazem querer parecer). Hastear a bandeira nacional, cantar o hino, notícias do país e do mundo e avisos. Adorei o momento, principalmente o das notícias. Não há nada como saber, logo pela fresca que, em Maputo, sobreviveu um gato depois de o deixarem dentro duma máquina de lavar-a-roupa. Fiquei intrigada com o método de pesquisa de informação que eles utilizam mas, mais tarde, vim a saber que são sempre novidades do dia anterior. Fui logo transportada para as minhas queridas manhãs de cafézinho, torrada e jornal na mesa da cozinha em casa.

Já dizia uma sábia professora de Educação Visual que "sem trabalhar, não há trabalho". Só tínhamos que nos começar a mexer se queríamos fazer aqui alguma coisa, e foi o que aconteceu. Apresentámos os planos dos seminários todos, passamos os dias na escola disponíveis para quem precisar, e animação não falta. Houve miúdos a vir tirar dúvidas de Física, Contabilidade, Matemática e a cova começa a não ter fim, cada vez que cavamos nas matérias mais básicas… Não pode ser aceitável que se esteja a dar a distinção entre gasto e despesa ou fórmulas de física sobre energia e força quando eles não sabem multiplicar nem interpretar uma pergunta. Mais vale saberem bem o básico e é isso que estamos a tentar que aconteça. Com o tempo que sobrava andámos a fazer os panfletos para anunciar pela escola, a inscrever os alunos e tratar de tudo para o primeiro seminário, de Inglês.

Mesmo os professores interessam-se imenso por aquilo que possamos vir a ensinar, querem também aulas para eles e já começaram os requisitos. Hoje estive a ajudar o Formador Manuel, director do último ano do curso de Agro-Pecuária, nos exercícios dum curso que ele está a tirar, à distância, de Economia Agrária. É estimulante ver que ele quer saber sempre mais procurando novas maneiras de o fazer, e recordei os conceitos de elasticidade e a tão adorada curva da oferta e da procura. Quis também saber como é que podia organizar os ficheiros no computador, copiar para um cd e ler os e-mails no telemóvel! A Irmã também quis fazer um panfleto da missa para imprimir e outro professor quer uma aula de Inglês para melhorar vocabulário. Venham elas!

O seminário correu muito bem, quis que fosse tudo informal e que eles estivessem à vontade. As salas têm uma luz mais fraca que um vão de escada em Alfama e fazem um eco desgraçado, por isso o melhor mesmo é estarem todos com as carteiras juntas a um metro do quadro e a levar comigo mesmo em cima. Perguntei o que queriam aprender, o que é que já sabiam e tiveram interesse em saber como se começa uma conversa, falámos sobre as partes do corpo e peças de roupa, e alguma construções básicas de frases e preposições. Nos últimos minutos, podiam pôr as perguntas todas que quisessem: um deles começou a cantar, queria que eu traduzisse, a versão dele do “Happy Birthday”; outro cantou uma música com a letra “Happy today / Happy tomorrow / We are celebrating”; outro queria saber dizer “paz”. Interesse não falta, a minha única preocupação era mesmo que eles não quisessem saber nada, que só falassem nas aulas e fossem indisciplinados mas alunos como estes nunca vi. Sempre de olhos esbugalhados, escrevem tudo e repetem, querem aulas a todas as horas livres… já lhes disse que mesmo que me encontrem no corredor, estão à vontade para pôr qualquer questão. No fim da aula, cá fora, brincámos um bocadinho, a falar todos em Inglês, eles a “jingar” connosco com frases do género “The teacher is beautiful, é assim que se diz, não é?” mas sendo que estes são os miúdos mais queridos que existem não podemos deixar de responder “Yes, the teacher and the students are beautiful!”.

Moçambique #36


22-05-2012

Os professores aqui ou têm a mesma idade que nós, ou não têm formação na matéria que estão a dar ou não têm formação de todo. É um facto, que não lhes tira crédito nenhum, antes pelo contrário, e que nos dá à-vontade para saber que o que queremos implementar e ensinar será bem recebido e trará valor acrescentado.

Assistimos à aula de Informática, com o professor aluno do curso de Geografia e História na faculdade da Maxixe, e que percebe minimamente de computadores. Estavam a trabalhar com o Publisher, que eu nunca tinha utilizado, mas que é muito instintivo e dá jeito para fazer convites, capas de livros, anúncios, entre outros. Cada um tinha que criar um modelo à escolha, mas tinha pouco tempo já que só há seis computadores para mais do triplo disto em alunos. Um dos textos que li era um que convidava as pessoas para virem à “terabia do amor, na Igreja Universal, onde achão solusão para proglemas”.

Há muito para fazer, as nossas cabeças não param de fervilhar. Seminários para preparar, anunciar, dar, torneios para organizar, estar com as velhinhas… Até encontrámos cá em casa um caixote cheio de roupa que devem ter dado aos Freis, e estava a ganhar pó, e vamos distribuir por aí. Já percebemos que como funciona aqui é propôr e avançar com o assunto, entraves há muito poucos!

Quando achava que ia descansar um pouco antes do jantar, convidam-nos para a aula de Educação Física, com a professora que também dá Biologia, que estava irreconhecível, para jogarmos basquetebol. Puseram-me logo em campo na equipa dela, cinco contra cinco, e eu que não me mexo há sei lá quantos meses, ia morrendo. Logo nos primeiros dez minutos estava a arfar, mas não queria dar parte fraca. Ao fim dos 45, já sentia os pulmões na boca. Mas valeu a pena, acabei por marcar uns cestos, e é uma óptima maneira de os conhecer,  e de eles perceberem que também cá estamos para nos divertir e conviver!

Moçambique #35


21-05-2012

A Irmã Laurinda, directora do conselho pedagógico, guiou-nos numa volta de reconhecimento pela casa das Irmãs e apresentou-nos os professores em falta. Fomos ainda conhecer a biblioteca, que eu imaginava com vários corredores, centenas de livros e que, na realidade, tinha cinco mesas e não mais de uma centena de manuais para a escola toda. Quase todos já usados por alunos portugueses e enviados para cá. Há-de nos servir, também não faz sentido a necessidade consumista da mudança dos mesmos de dois em dois ou três em três anos.

Encontrámos o Sr. Manuel, director do curso de agro-pecuária, que nos convidou logo a ir assistir à "tutoria de alternância": os alunos do terceiro ano, têm uma semana para ir investigar sobre um tema, na sua família e/ou comunidade, e apresentam depois aos professores, tipo tese. Cada uma de nós ficou com um professor, a tentar perceber o que é que eles já tinham e corrigir eventuais erros. O tema era sobre fontes de rendimento e, as pesquisadas por todos, eram provenientes das machambas e criação bovina e suína. Os erros ortográficos eram mais que muitos, já que eles escrevem como falam. Por exemplo, o "pipino" e o "distino". Mas o melhor foi uma a insistir que "couve" era "cove" por que assim se dizia. Penso que o maior obstáculo é os próprios professores pôrem perguntas com palavreado complicado, que nem os alunos percebem para entrevistar a comunidade. É preciso ajudar os professores mas, a longo prazo, quero sugerir que o programa deles seja mais simplificado e não chapa três do ensino em Portugal. Não há necessidade de eles terem 20 disciplinas, a realidade do primeiro ano, ao acumularem as gerais com as específicas do curso técnico. Ficam a saber muito pouco, não têm tempo para se dedicar a nenhuma e duvido que retenham alguma matéria.

Houve ainda tempo para conviver com a malta jovem cá de casa, jogámos Jenga enquanto tocava viola e lavámos a roupa e pusemo-la a estender, exactamente quando veio uma trovoada tropical.

Na hora do estudo obrigatório, tivemos um miúdo a perguntar como é que se chamava um vendedor de jornais, que o professor de português queria e, depois de algum tempo a pensar, ficou todo contente por lhe responder que era um ardina. Fizemos umas perguntas a dois que estudavam Geografia, os planetas e estrelas, e outros Inglês, que sabiam o equivalente ao nosso 5º ano, sensivelmente.

Já não nos vamos dar ao trabalho de continuar a contrariar os professores quando começam a assumir que somos professoras das matérias que ensinamos porque eles próprios não tiveram formação nas disciplinas que leccionam e, aquilo que nós achamos ser só saber um mínimo de algo, aqui é um tesouro.

Moçambique #34


20-05-2012


Inhampupo foi a comunidade visitada. Não muito longe daqui, com muitos buracos e lombas pelo caminho, esperava-nos um grupo de não mais de 70 pessoas no que, há nem sei quantos anos, teria sido uma escola e, por alguma razão, agora é usada como igreja. Tinham feito um caminho até ao altar delimitado por flores lilases, ao lado do qual estavam dois quadros de ardósia muito desgastados, havia umas quantas secretárias com bancos acoplados e ouvia-se e cheirava-se uma família de morcegos que por ali pairava. São construções fascinantes estas e muitas vezes perco-me a imaginar cenas ali passadas. Bem que o posso tentar fazer, devem ser dois mundos distantes, já que esta escola deve ter sido começada por portugueses e, hoje em dia, admiro-me se as pessoas que aqui moram, da minha idade, não fôr a primeira vez que vêem uma branca.

Enquanto o Frei tinha uma reunião com os papás debaixo da mangueira, nós fomos tentando meter conversa com a juventude local. Falei do que tínhamos vindo cá fazer e perguntei como era a vida por ali. Não difere muito das outras comunidades: todas as raparigas entre os 17 e 26 trabalhavam na sua machamba que dá mandioca, feijão, milho e afins. A diferença é que não havia nenhuma que tivesse um número insustentável de filhos, apenas um ou dois, que são amamentados quer se esteja nestas conversas, na missa, no chapa... É quando fôr preciso e o bebé estiver a chorar, já que chupeta é objecto ainda não avistado.

Tão díspar é o meu nível de conforto agora, ao estar nestes grupos, e nos primeiros dias. Dizendo isto, nunca sei muito bem o que inventar quando sou largada assim numa comunidade durante duas horas antes da missa e tudo o que fazem é olhar para nós e rirem-se imenso. Converso, tiro fotografias, brinco com os miúdos... convive-se.

O almoço foi lá: arroz, massa, e sopa de massa com peixe, e também já nem sequer me faz impressão pensar como terá sido preparado. À volta, passámos pela palhota duma senhora - caminho pelo qual já não devia passar um carro há bastante - que estava doente, já há três anos, e quis receber a extrema unção e confissão. Quando parámos na vila, o carro pifa, o Frei arranja-o, mas parte o capot e assim vamos sem ele de volta para casa.

À tarde, não faltou entretém, quando nos apercebemos que tínhamos deixado a única chave do quarto dentro do mesmo. O Bresneves - sobrinho do Frei Filipe e apelidado assim "por causa do russo" que suponho ser um qualquer  "Brejnev" - que cá mora e é um handy man, chamou o carpinteiro, o Manuel, colega dele na escola e tiveram mesmo que partir o vidro da janela para entrar... Tivemos depois que nos mudar para outro quarto que, entre falta de fechadura, de vidro, de rede mosquiteira ou de electricidade havia muito por onde escolher.

Soubémos por umas alunas, que todos os dias de Domingo a 5ª feira há uma hora obrigatória de estudo às 19:30 e decidimos invadi-la para saber que matérias estão a estudar e poder tirar eventuais dúvidas. Não estava à espera que logo neste primeiro dia alguém viesse, realmente, ter connosco, mas uns corajosos vieram-nos interrogar sobre os sujeitos, predicados e todos os complementos circunstanciais, a Português, que eu adorava mas que de muitos já me esqueci. E, a esta hora, não há biblioteca que nos salve, tão pouco internet, eles não têm livro individual e o professor ainda nem sequer tinha dado a matéria toda. Faz-se o que se pode, com aquilo que se tem. Eles ficaram todos contentes, com um trabalho que, de outra maneira, teria ficado quase em branco, mas que foi o máximo que conseguimos explicar, dado que o tema seguinte de estudo era sobre viveiros, canteiros, alimentação cunina e com uma inclinação mais agro-pecuária, nos quais a minha ignorância é rainha.

Moçambique #33


19-05-2012


O dia começou com uma visita à machamba em Mubalo, na qual o Frei está muito empenhado para que dê alimento!

Está sempre com ideias novas, para onde é que podem vender, como é que os miúdos da escola podem ir mais vezes para lá, e só fala dos seus negócios para trazer mais receitas para a missão. Acho que faz muitíssimo bem, não ficar à espera que tudo lhes caia nas mãos, e esta missão é enorme, não se pode dar ao luxo de ser mal gerida. A machamba está no bom caminho e nós próprias pusemos mãos à obra para aprender sobre agricultura! Reguei e tirei o capim de rebentos de cebolas - é difícil distinguir um do outro - mas ainda não capinei (o meu, mais recente, verbo favorito). Estão sempre a falar disso e ainda mais frequentemente quando mencionam castigos para os alunos. Se se portam mal, vão capinar! É basicamente revolver a terra à volta da planta com uma enxada que, neste sol, é sempre um tormento. Ao início estava cheia de energia, mas mal apareceu o sol das 9:30 põe-se-me também uma moleza que me faz compreender o ritmo alentejano... E estamos no Inverno!

O resto do dia foi livre, já que tinha sido desmarcado o programa pastoral do Frei à tarde. Estive a fazer uns resumos de filosofia para o Frei, jogámos jogos e vimos um filme, o Drive, que muito fez as nossas alegrias, de tão surpreendentemente recente que é. Todos os outros são de muita violência ou, pelo contrário, sobre Fátima, variadíssimos santos, e cassetes de vídeos caseiros.

Andávamos mal habituadas, com as comidinhas das Mamãs em Jangamo e, hoje, como ficámos todo o dia em casa, não conseguia parar de pensar nisso. Não há lanche por aqui, a única coisa na cozinha são tangerinas - que temos comido umas três por dia - e o jantar... fiquei mesmo desconsolada. Eu já à espera de me saciar desde as 15:30 e, às 19:30, servem o que suspeito ser pedaços de cabeça de porco. À primeira dentada, apanho um dente preto na boca, e a partir daí até me custou comer só o arroz com molho. Salvou-me depois uma banana-maçã mas, de qualquer modo, perdi o apetite...

Moçambique #32


18-05-2012

O Frei dá aulas, duas vezes por semana, na Maxixe, de filosofia e, por isso, tivemos a manhã livre enquanto ele lá esteve. Já estou habituada ao horário de cá e acordei, na mesma, às 7:00.

Tentei tomar o primeiro banho de água quente, pondo uma resistência - um ferro que aquece quando ligado à corrente - num balde com água mas preferir não morrer electrocutada dado a primeira tentativa ter gerado muita faísca, literalmente. O mata-bicho é igualzinho aqui a qualquer outra missão: chá 5 Roses, Ricoffy, pão branco, um doce de frutas indefinidas, açúcar amarelo e manteiga.

Decidimos pôr mãos à obra e dar um jeito à sala de estudo/biblioteca. Arrumámos os livros e revistas, encontrando pelo meio centenas de folhas e papéis variados: convites, panfletos, contabilidades, correspondência... Tudo misturado, nada organizado. Só para separar tudo e limpar um pouco foram umas três horas, com muitas mais para vir. Se não montam um sistema básico, com a constante mudança de direcção da casa entre os Freis, tudo se perde e nada se encontra... Acho que o mais necessário é, primeiro, um caixote do lixo. Não há necessidade de terem convites para casamentos de há dez anos, por exemplo. Não culpo os que estão cá, mas também é preciso alguem que se dê ao trabalho de identificar os problemas, planear um caminho e começar a concretizar, mesmo que aos poucos. Nos tempos livres, continuo a tratar disto. Talvez tenha mais de gestora em mim do que aquilo que penso.

De tarde, fomos conhecer as actividades circundantes e as pessoas com quem vamos estar. Fomos primeiro às velhinhas, história que já conhecíamos, muito triste. O Frei diz que elas se queixam muito mas duvido que lá vá alguém com regularidade para que depois os problemas não lhe caiam todos de uma vez em cima...

Passámos no internato e na escola. Falámos com umas alunas que disseram que podíamos começar por ir, às 19:30, durante uma hora, de Domingo a 5ª feira, à sala onde estudam a seguir às aulas e estar lá para tentar tirar alguma dúvida. Encontrámos a Irmã responsável pela parte pedagógica que se vai reunir connosco 2ª feira de manhã para dizer o que é melhor fazermos. Queixou-se que o tempo era curto, coisa que já me irrita ouvir, e não parecia muito feliz. Compreendo que queira mais gente, mais tempo mas, sendo nós as primeiras a vir para aqui, só podemos relatar a posteriori o que foi mal e bem feito para tentar tirar o máximo partido de futuras vindas missionárias. Não sei até que ponto é que tão pouca gente tem tempo para atender a todas as necessidades mas talvez pudessem investir em contratar pessoal para vir para cá, ou ter isto dos voluntários mais estruturado. Conheço muita gente que gostaria de vir trabalhar em sítios assim mas que pouco sabem e menos são informados. Nós, viemos completamente às escuras e este é um sítio com tanto potencial! Vou discutir isto ao longo dos dias com o Frei Viegas e depois com o Frei Vítor, em Portugal. Só o Frei Viegas é professor, director da escola, responsável da missão e padre responsável por 50 paróquias!

Ele ofereceu-nos um livro escrito por um Frei italiano que cá esteve muito tempo chamado "Apontamentos Históricos" sobre a missão no distrito de Homoíne, que comecei a ler ao fim do dia. Conta as verdadeiras peripécias, empreitadas e obstáculos na construção desta missão e que me fez, mais ainda, querer continuar a desenvolvê-la.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Moçambique #31


Homoíne, Inhambane, Moçambique


17-05-2012

Nova aventura em Homoíne e haverá muito que fazer aqui!

O Frei Viegas é um homem muito preocupado com os destinos desta missão, pelo menos é o que aparenta neste primeiro dia de convívio. Só cá está desde Janeiro, mas desdobra-se em actividades para ter a certeza que vários pedidos de diferentes proveniências são atendidos.

Começou a revitalizar a casa onde estamos, que lamentou estar muito degradada quando cá chegou, e vê-se que se preocupa com o sentido estético e o conforto destas casas, que também faz muita diferença. Por todo o sítio que passa, fala dum novo projecto, dum arranjo que precisa de ser feito, do que ficou por fazer... mas há sempre duas limitações maiores: o dinheiro e o pessoal.

Também já apostou muito na horta aqui da missão e nas machambas em Mubalo, a 8 km daqui. Têm lá uma casa no meio do mato onde guardam os instrumentos para trabalhar no campo e já começaram a plantar arroz, couve-repolho, pimento, tomate, milho e feijão. Sendo que uma das escolas que funciona aqui é de agro-pecuária, nada melhor que estagiar os alunos na machamba, colhendo depois para alimentação dos mesmos e receitas para a missão. É preciso investir mais nesta área, com tanto hectare para plantar! Quando lá fomos, encontrámos um grupo de alunos nessa casa, que lá tinha estado uma semana, só a trabalhar na machamba, vivendo depois na casa sem electricidade e só com uns colchões no chão. Pobres coitados, não há-de ter sido fácil. Mas pus-me logo à conversa com o Frei porque esta casa tem o potencial para ser um paraíso. Quando digo que é no mato... é mesmo no meio de nenhures e apenas a uns 15 minutos da missão. Estávamos lá ao pôr-do-sol e foi dos cenários mais idílicos que vi na minha vida. Não se vê um único poste de electricidade, um único sinal de civilização, a não ser a machamba e uma ponte por cima dum riacho, com coqueiros a perder de vista. E depois, esta casa, grande e branca, com uma varanda onde muitos pagariam, e bem, para estar. Vamos fazer disto o Hotel V, como ele diz! Já ando a sonhar, vir aqui reabilitar isto.

Fomos acompanhados por um senhor da Caritas e uma voluntária, com a qual estivemos de manhã. Ela, milanesa, está em regime voluntário por um ano em Moçambique, indo de escola em escola de uma ponta à outra do país, para fazer um acompanhamento da situação, trabalho que ele faz sempre sozinho. Durante a manhã, estivemos com ela enquanto foi a quatro casas vizinhas onde vivem ex-alunos da escola de agro-pecuária para ter feedback e saber como tem corrido a vida deles até agora. Nenhum se arrependia de lá ter estado, mas ainda estavam em casa, só tinham ainda trabalhado lá e não fora. Diga-se também que lá podem entrar com 14 anos e sair com 17, e este curso já técnico serve de equivalência aos 8º, 9ºe 10ºs anos e podem depois continuar a estudar noutras áreas.

O trabalho do homem da Caritas pareceu-me muito apelativo. Basicamente ele é consultor destas escolas em que a Caritas investe e dá apoio pedagógico, de gestão, e confirma que o dinheiro está a ser utilizado onde é mais necessário.

Ao fim do dia, temos banda sonora, dos mais de 6000 alunos que circulam por aqui, das campainhas da escola e dos cânticos dos mais novos. Estar na varanda, a ler o Equador, faz este país entranhar-se em mim.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Moçambique #30


16-05-2012

Chegado o dia de mudança para outras paragens. Fizemos a mala ao acordar e fomos para a escolinha, carregadas com sacos, no chapa, com os presentes para eles. Conseguimos chegar a tempo o lanchinho a meio da manhã e distribuímos o bolo e sumos que tínhamos preparado na tarde anterior. Não sobrou nada!

As titias já deviam ter dito que ía ser o nosso último dia pois alguns estavam com uma cara muito tristonha. No recreio, vieram-se sentar ao meu colo uns que nunca o tinham feito, dar-me a mão e fazer festinhas e até vi os dentes de uns que nunca sorriam quando lhes fazia cócegas. Na sala, olhei para cada um deles com olhos de ver e para tentar decorar cada uma destas carinhas doces. Treinaram escrever os números de um a dez e eu não conseguia deixar de estar feliz por estar ali com eles, apesar de alguns números, na sua perspectiva, serem exactamente o mesmo que circunferências e outras formas geométricas mais indefinidas.
No final, distribuí os saquinhos e, claro, o que gostaram mais do que estava lá dentro foram as pipocas!

Mas a falta de uma cara na sala fazia-se sentir, dum menino chamado Cléber que é o que fala mais, dança mais, canta mais e conta as histórias mais imaginativas. Soube que, no dia anterior, pouco depois de termos saído para a Maxixe, ele tinha sofrido um ataque epiléptico ali mesmo. O amigo do lado tinha percebido que ele não estava a brincar e conseguiu amparar a queda e o Cléber acabou por não se magoar. A titia disse que fez o que pôde, no seu estado de pânico controlado, foi chamar as outras e nada mais puderam fazer do que ficar ali com ele até recuperar. Ainda foram tentar chamar o pai à escola secundária, que não estava, mas acabou por chegar, eventualmente, e levaram-no para o hospital. Amanhã telefono à titia a saber se há notícias, não consegui deixar de pensar nele o tempo todo.

Almoçámos com as Irmãs, as chamuças feitas no dia anterior, e conversámos muito sobre o que a Irmã Teresa tinha feito pelos meninos e meninas de Cumbana. "Bebé que não chora, não mama" e a Irmã Teresa faz-se ouvir muito bem! Acho imensa graça ela a dizer que já mandou cartas para toda a gente importante em Portugal, a mostrar este projecto, incluindo deputados e muitas, muitas equipas de futebol. Também costuma enviar fotografias, mas que não manda como as outras fazem, com "os meninos sujinhos, porque cá eu esforço-me para que eles não andem assim!". Aconselhámos enviar para o Cristiano Ronaldo, que não conhecia. Quem tinha pago a maior parte da escolinha tinha sido um espanhol e quem também está muito empenhado é um senhor que trabalha no Naval. A descrição dela da visita à Figueira da Foz, a estadia num hotel com piscina e a ida "de avião" da Figueira ao Porto, como agradecimento do senhor pelo trabalho que tem feito, é uma pérola.

Ainda tivemos que ir à Maxixe levantar dinheiro, que a Joana queria já deixá-lo à escolinha, e acabámos por nos atrasar tendo o Frei Abel que ir à sua vida e ficou a partida adiada para amanhã de manhã.

Acabou por calhar bem porque aproveitámos o tempo para descansar, que estávamos mortas, para escrever, organizar e fazer backups de fotografias para que tudo esteja preparado para a nova aventura.

Estive a ver um panfleto turístico no carro da Irmã e fiquei impressionada com os números moçambicanos. Para o tamanho que tem este país, 800 mil km2 , só tem 20 milhões de pessoas das quais 80% vivem da agricultura de subsistência, só um quarto sabe falar português, e mais de metade tem menos de 14 anos! Impressionou-me muito. É um país com todo o potencial para ser gigante mas também me tenho andado a aperceber que são os próprios moçambicanos que têm que fazer mexer o país, não são ajudas externas. Sinto que eles prezam muito a sua independência mas que muitos também são nostálgicos e gostariam que alguém começasse a investir num futuro melhor para todos.