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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Moçambique #61


17-06-2012

Um dia digno de ser o último foi o que planeámos e executámos, apesar do melhor vir sempre sem avisar.

Voltámos à feira de artesanato, pois as meninas tinham ouvido falar dos batiks: um pedaço de pano branco onde desenha um artista e vai-se mergulhando em tinta de determinada cor para depois bloqueá-la, com cera, a parte que queremos manter assim. Enceramos logo no início aquelas que queremos manter brancas e vai-se mergulhando em várias cores e encerando. Os padrões são tudo aquilo que tenha um toque africano. E como o mundo não é maior que uma castanha de caju, encontrámos a Viki, que conhecemos em Homoíne, nas redondezas.

Siga de riquexó para a praia que nos disseram ser a melhor, a Marés, na Costa do Sol, a 5 quilómetros da casa. Em termos de beleza natural já sabíamos que não ia ser espectacular mas amei as horas lá passadas. Quase todos os portugueses estavam na esplanada mas esta tinha uma estrada à frente e só então a praia. E como nós já somos praticamente moçambicanas, quisemos o real deal. Abastecemo-nos com um papo seco enorme e quentinho, do centro comercial colado, mais uma coca-cola, e fomos estender as capolanas em frente às dezenas de barracas a vender frango de churrasco e batata frita (aqui pouco existe o conceito de diferenciação), às cadeiras e mesas de plástico e aos comensais locais. Estivemos sempre a mudar de spot porque a maré não parou de subir e cedo não havia espaço para nós e os que queriam jogar à bola! Os miúdos tomavam banho de roupa, os mais velhos bebiam Laurentinas e estas (na praia ainda mais) branquinhas de papo para o ar, como se nunca tivessem estado noutro lugar. Fez-me gostar ainda mais deste país, sentir-me em casa num Domingo à tarde entre amigas.

O fim de dia foi passado em “até já”s, presenciais, telefónicos e escritos, e a fazer a mala.

No aeroporto, encontrei os maiores atrasados até à data, começando pelo segurança do raio X, que perguntou se eu não lhe queria deixar os meticais que me tinham sobrado, passando pelas funcionárias de todas as lojas que não tinham troco e achavam isso normalíssimo, e acabando nos quatro do posto de controlo dos passaportes, que me gozaram à força toda e ameaçaram de multa por causa do visto que tinha expirado ontem. Vão-se fumar, como gostam de dizer! Enfim, valeu a vitória de Portugal a que assistimos com os outros viajantes nos ecrãs espalhados por lá!

Não gosto de conclusões, de resumos, nem de melancolias mas este relato tem que acabar neste dia de regresso. Sei que Moçambique não me vai sair dos ossos e as lições a tirar se devem repercutir para o resto da minha vida. Não me cabe a mim ter já noção de quais as são mas ao tentar deixar aquilo que trazia comigo, levo lembranças de valor incalculável, caras muito amigas, mensagens poéticas no telemóvel e muita, muita dança e alegria. Não há como negá-lo, esta malta dá aquilo que não tem, através duma maneira de viver mais simples que a nossa mas dando valor ao que interessa. Vou com uma pitada de maturidade mas de consciência duma enorme inexperiência em relação a tudo. É como se se tivesse aberto mais uma porta para mim. Vou, mas sabendo que na ida está sempre latente um regresso.

Moçambique #60


16-06-2012


Quem diria que chegávamos a vir a um museu em Moçambique? O escolhido foi o de História Natural, onde vimos muito bicho empalhado, artefactos de tribos africanas de há muitos anos mas que, hoje em dia, se continuam a usar, e ilustrações da fauna e flora com ar do século passado. Mas o meu recanto preferido foi o de um conjunto de embriões de elefante, em várias fases de gestação, conservados em “formaldeído”, acompanhados duma explicação de que tinha sido “o Sr. Carreira a aproveitá-los duma matança, feita por outros, e que hoje isto não seria possível de replicar”. Andámos na nossa vidinha, feitas independentes, com o nosso melhor amigo, o riquexó ou “chopela”. É rápido, fresco, barato e só é pena não haver mais cá nem em Portugal!

Num instante pusemo-nos no mercado central, onde a secção da fruta foi, sem dúvida, a melhor por onde já passei e que, por isso mesmo, me surpreendeu. Aviámo-nos de tudo o que é indispensável levar connosco na mala: caju, cana-de-açúcar, mandioca, e banana-maçã. O mercado tinha também uma parte, maravilhosa, dedicada a cabelos (com, literalmente, baldes de amaciador e tudo quando é cremes), outra de artesanato, peças de mecânica e os mais variados alimentos.

Verdadeiramente tugas e por indicação da Roxanne, amiga conhecida em Lisboa mas de cá, fomos ao restaurante/padaria/pastelaria dos pais dela, o Cristal, para satisfazer os nossos desejos mais profundos de gordas. Tínhamos à escolha: cozido à portuguesa, pastéis de bacalhau, bolos de arroz, marisco… tudo o que nos pudesse apetecer! Eu fiquei-me por um croissant com queijo e uma coca-cola, que me souberam a pato.

Acabámos o dia numa festa da Heineken, no Desportivo na baixa da cidade, promovida pelo irmão Licussa mais velho, com as manas já nossas amigas e que são duma simpatia incalculável, tal como a maioria das pessoas que temos vindo a conhecer.