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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Moçambique #58


14-06-2012
Maputo, Moçambique

Ficámos mal habituadas com o autocarro que nos tinha levado para o Chimoio, que mais parecia um avião. Precisávamos de ter o real deal, e foi o que não faltou!

O Frei quase levou as mãos à cabeça quando olhou para dentro do autocarro mas nós só nos conseguíamos rir. Acordámos às 4:15 e partimos um bocadinho antes das 7:00 do Inchope numa viatura que só consigo descrever como um chapa de 100 lugares ou o que seria a Carris há 20 anos, com amontoados de malas em tudo quanto era espaço sem cadeiras. Ar condicionado é uma miragem, casa-de-banho foi um bidé numa paragem a meio das 14 horas até Maputo, o condutor era vesgo e sempre o mesmo, a velocidade furiosa e, a cada ultrapassagem, parecia que estávamos uma sala de cinema, com o público sempre em suspense e sustendo a respiração. Eu, cada vez que olhava pelo vidro dianteiro, rezava 3 Avé Marias.

A antecipação foi pior do que a viagem em si. Bebi pouca água para aguentar as longas horas sentada; diverti-me a ver o condutor acelerar enquanto alguns faziam as suas necessidades a um metro do autocarro quando este parava para alguém descer; maravilhei-me com os negócios que é possível fazer através duma janela de camioneta; e exasperei com as inspecções a cada mudança de distrito (que consistem num guarda a olhar para os passageiros e, num ou noutro caso, aceitar uns trocos do condutor).

Mas um dos melhores momentos foi, sem dúvida, o manager da camioneta abrir as luzes quando já estava tudo em escuridão total e chamar: “Carolina? Estão a pedir para atender o telemóvel!” pois o Frei Filipe estava a tentar ligar-me e, vendo que eu não atendia, ligou para ele, pois está claro.

Agora estou de volta ao local onde tudo começou e que, na altura, me provocou muitos sentimentos díspares. De dúvida, de motivação, de medo e de curiosidade. Foi uma micro-vida que se deu entretanto. Ainda não tenho respostas, só perguntas: o que será que transformei ou afectei, para melhor e para pior? A quem influenciei e a quem passei despercebida? Como será voltar a casa e um dia regressar a Moçambique? O que mudou em mim e o que é que se mantém? Hoje só sei que as folhas e os lápis escasseiam, que estou quase tão branca como quando vim e que me sinto exausta mas em paz. 

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