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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Moçambique #32


18-05-2012

O Frei dá aulas, duas vezes por semana, na Maxixe, de filosofia e, por isso, tivemos a manhã livre enquanto ele lá esteve. Já estou habituada ao horário de cá e acordei, na mesma, às 7:00.

Tentei tomar o primeiro banho de água quente, pondo uma resistência - um ferro que aquece quando ligado à corrente - num balde com água mas preferir não morrer electrocutada dado a primeira tentativa ter gerado muita faísca, literalmente. O mata-bicho é igualzinho aqui a qualquer outra missão: chá 5 Roses, Ricoffy, pão branco, um doce de frutas indefinidas, açúcar amarelo e manteiga.

Decidimos pôr mãos à obra e dar um jeito à sala de estudo/biblioteca. Arrumámos os livros e revistas, encontrando pelo meio centenas de folhas e papéis variados: convites, panfletos, contabilidades, correspondência... Tudo misturado, nada organizado. Só para separar tudo e limpar um pouco foram umas três horas, com muitas mais para vir. Se não montam um sistema básico, com a constante mudança de direcção da casa entre os Freis, tudo se perde e nada se encontra... Acho que o mais necessário é, primeiro, um caixote do lixo. Não há necessidade de terem convites para casamentos de há dez anos, por exemplo. Não culpo os que estão cá, mas também é preciso alguem que se dê ao trabalho de identificar os problemas, planear um caminho e começar a concretizar, mesmo que aos poucos. Nos tempos livres, continuo a tratar disto. Talvez tenha mais de gestora em mim do que aquilo que penso.

De tarde, fomos conhecer as actividades circundantes e as pessoas com quem vamos estar. Fomos primeiro às velhinhas, história que já conhecíamos, muito triste. O Frei diz que elas se queixam muito mas duvido que lá vá alguém com regularidade para que depois os problemas não lhe caiam todos de uma vez em cima...

Passámos no internato e na escola. Falámos com umas alunas que disseram que podíamos começar por ir, às 19:30, durante uma hora, de Domingo a 5ª feira, à sala onde estudam a seguir às aulas e estar lá para tentar tirar alguma dúvida. Encontrámos a Irmã responsável pela parte pedagógica que se vai reunir connosco 2ª feira de manhã para dizer o que é melhor fazermos. Queixou-se que o tempo era curto, coisa que já me irrita ouvir, e não parecia muito feliz. Compreendo que queira mais gente, mais tempo mas, sendo nós as primeiras a vir para aqui, só podemos relatar a posteriori o que foi mal e bem feito para tentar tirar o máximo partido de futuras vindas missionárias. Não sei até que ponto é que tão pouca gente tem tempo para atender a todas as necessidades mas talvez pudessem investir em contratar pessoal para vir para cá, ou ter isto dos voluntários mais estruturado. Conheço muita gente que gostaria de vir trabalhar em sítios assim mas que pouco sabem e menos são informados. Nós, viemos completamente às escuras e este é um sítio com tanto potencial! Vou discutir isto ao longo dos dias com o Frei Viegas e depois com o Frei Vítor, em Portugal. Só o Frei Viegas é professor, director da escola, responsável da missão e padre responsável por 50 paróquias!

Ele ofereceu-nos um livro escrito por um Frei italiano que cá esteve muito tempo chamado "Apontamentos Históricos" sobre a missão no distrito de Homoíne, que comecei a ler ao fim do dia. Conta as verdadeiras peripécias, empreitadas e obstáculos na construção desta missão e que me fez, mais ainda, querer continuar a desenvolvê-la.

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