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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Moçambique #30


16-05-2012

Chegado o dia de mudança para outras paragens. Fizemos a mala ao acordar e fomos para a escolinha, carregadas com sacos, no chapa, com os presentes para eles. Conseguimos chegar a tempo o lanchinho a meio da manhã e distribuímos o bolo e sumos que tínhamos preparado na tarde anterior. Não sobrou nada!

As titias já deviam ter dito que ía ser o nosso último dia pois alguns estavam com uma cara muito tristonha. No recreio, vieram-se sentar ao meu colo uns que nunca o tinham feito, dar-me a mão e fazer festinhas e até vi os dentes de uns que nunca sorriam quando lhes fazia cócegas. Na sala, olhei para cada um deles com olhos de ver e para tentar decorar cada uma destas carinhas doces. Treinaram escrever os números de um a dez e eu não conseguia deixar de estar feliz por estar ali com eles, apesar de alguns números, na sua perspectiva, serem exactamente o mesmo que circunferências e outras formas geométricas mais indefinidas.
No final, distribuí os saquinhos e, claro, o que gostaram mais do que estava lá dentro foram as pipocas!

Mas a falta de uma cara na sala fazia-se sentir, dum menino chamado Cléber que é o que fala mais, dança mais, canta mais e conta as histórias mais imaginativas. Soube que, no dia anterior, pouco depois de termos saído para a Maxixe, ele tinha sofrido um ataque epiléptico ali mesmo. O amigo do lado tinha percebido que ele não estava a brincar e conseguiu amparar a queda e o Cléber acabou por não se magoar. A titia disse que fez o que pôde, no seu estado de pânico controlado, foi chamar as outras e nada mais puderam fazer do que ficar ali com ele até recuperar. Ainda foram tentar chamar o pai à escola secundária, que não estava, mas acabou por chegar, eventualmente, e levaram-no para o hospital. Amanhã telefono à titia a saber se há notícias, não consegui deixar de pensar nele o tempo todo.

Almoçámos com as Irmãs, as chamuças feitas no dia anterior, e conversámos muito sobre o que a Irmã Teresa tinha feito pelos meninos e meninas de Cumbana. "Bebé que não chora, não mama" e a Irmã Teresa faz-se ouvir muito bem! Acho imensa graça ela a dizer que já mandou cartas para toda a gente importante em Portugal, a mostrar este projecto, incluindo deputados e muitas, muitas equipas de futebol. Também costuma enviar fotografias, mas que não manda como as outras fazem, com "os meninos sujinhos, porque cá eu esforço-me para que eles não andem assim!". Aconselhámos enviar para o Cristiano Ronaldo, que não conhecia. Quem tinha pago a maior parte da escolinha tinha sido um espanhol e quem também está muito empenhado é um senhor que trabalha no Naval. A descrição dela da visita à Figueira da Foz, a estadia num hotel com piscina e a ida "de avião" da Figueira ao Porto, como agradecimento do senhor pelo trabalho que tem feito, é uma pérola.

Ainda tivemos que ir à Maxixe levantar dinheiro, que a Joana queria já deixá-lo à escolinha, e acabámos por nos atrasar tendo o Frei Abel que ir à sua vida e ficou a partida adiada para amanhã de manhã.

Acabou por calhar bem porque aproveitámos o tempo para descansar, que estávamos mortas, para escrever, organizar e fazer backups de fotografias para que tudo esteja preparado para a nova aventura.

Estive a ver um panfleto turístico no carro da Irmã e fiquei impressionada com os números moçambicanos. Para o tamanho que tem este país, 800 mil km2 , só tem 20 milhões de pessoas das quais 80% vivem da agricultura de subsistência, só um quarto sabe falar português, e mais de metade tem menos de 14 anos! Impressionou-me muito. É um país com todo o potencial para ser gigante mas também me tenho andado a aperceber que são os próprios moçambicanos que têm que fazer mexer o país, não são ajudas externas. Sinto que eles prezam muito a sua independência mas que muitos também são nostálgicos e gostariam que alguém começasse a investir num futuro melhor para todos.

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