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terça-feira, 1 de maio de 2012

Moçambique #12

28-04-12 #12
Mais um dia de festa na comunidade, outra vez no meio do mato mas, agora, um casamento! Ao ar livre, debaixo dum coberto de madeira e folhas de palmeira, adornado com flores lilases e brancas, chão de terra arenosa – como em todo o lado -  e as vestimentas mais dignas de fotografia possível. As mulheres vestem todas capolana, um tecido colorido com os padrões africanos de cada zona ou país, que pode ser usado como saia ou transformado em vestido, camisa, pano para a cabeça ou mesmo para servir de decoração nas paredes e mesas. Nós já comprámos uma e o Frei Filipe ofereceu-nos outra quando chegámos, uma azul céu com imagens de palmeiras, Nossas Senhoras, peixes, tudo num mix harmonioso para celebrar os 50 anos da Paróquia. Capolana essa que levámos hoje e que já muitas pessoas nos ajudaram a pôr decentemente!
Não é raro ter que ser o carro do padre a ir buscar os noivos para a igreja e levar depois para o copo de água e foi isso que aconteceu. Lá fomos nós apertadinhos, com ainda mais convidados na bagageira, mas num silêncio sepulcral já que a noiva só grunhiu um bom dia e estava com um ar de quem ia para a forca. Os Freis já nos tinham dito que, aqui no sul, havia noivas que se tornavam como que escravas para a família do noivo e foi imediatamente isso que pensei quando olhei para o ar de infeliz da senhora… O Frei diz que não, que eles só estavam stressados porque deviam ter ido ao registo antes da cerimónia, que o casamento já ia começar atrasado… tenho as minhas dúvidas. Acontece que a noiva, assim que se casa, passa a fazer parte da família do marido e já não da sua onde nasceu. Assim, os pais da noiva têm que pagar um dote à família do noivo para que esta tome conta da sua filha, e há uma grande pressão nela de honrar o nome dos pais na nova família. Ela passa a ter que tratar de tudo de todos na nova família e chega ao ponto de, se o marido morrer, um irmão poder tomar o lugar do falecido! Os Freis muito abanam a cabeça de descontentamento quando contam isto. No entanto, dizem que ninguém é obrigado a casar, mas que também é impensável ficar sem marido…
Cá por casa, foi tarde e noite de “recreação”, como é chamada, que acontece uma vez por mês. É dia de festa, e os frades daqui não são o que se imagina – calados, recatados, sérios – são os que têm mais energia, o riso mais forte e vontade de estar sempre a mexer! Nós, fizemos brigadeiros para sobremesa porque achámos ser o mais fácil de fazer com os ingredientes que temos por aqui, sem frigorífico, forno, e com fogão a lenha. Não saíram mal, para a próxima aventuramo-nos com um bolo que já apalavraram ao Frei emprestar um forno quando for preciso! Estivemos também a tentar arranjar a viola que está cá, mas sem sucesso; lavámos a roupa no tanque; lanchámos tangerinas e feijão fresco cozido e ainda estivemos a fazer hóstias. De noite, a festa foi animada, com muita cerveja preta, comida e música africana, um bocadinho de reggae e mesmo portuguesa que dançámos com os Freis! Eles não são, de todo, típicos, volto a enfatizar.

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