15-05-2012
Na véspera da partida, foi o dia em que mais me senti em casa. Um mês foi o tempo mais acertado para cá estarmos.
O dia começou em alegria, ao sair do chapa, a rasgar as calças com um ferro saído, mesmo no meio do rabo, para risada dos miúdos que estavam perto. A capolana que trazia como lenço à cabeça foi a salva-vergonhas! Combinamos ir à Maxixe com a Irmã Teresa, para ir ver de capolanas e comprar material escolar que ficasse na escolinha. Mas, sobretudo e muito importante, estarmos com a Irmã, como num passeio de amigas. Ela, de vez em quando, menciona que é muito bom ter-nos cá para matar saudades dos portugueses. É algo em que, se calhar, não se pensa muito, afinal falamos todos a mesma língua mas as culturas, hábitos e mesmo maneira de falar não deixam de ter as suas diferenças. Ela gosta de perguntar pelas nossas vidas, falar de terriolas portuguesas, Mirandela incluída, com as suas "duas pontes iluminadas e um rio, bem bonitos!" e saber notícias de Portugal (mas também faz questão de se manter informada cá e as frases "Eu bem sei como é lá agora... as pessoas não querem ser gordas, não é?" são fruto dessa investigação profunda). Para além de que, quando a ouço, estou maioritariamente a rir, sem intenção da parte dela. Tudo o que a nossa santa diz é com o ar mais sério, mas não é possível encará-la como merece quando é constante o calibre das suas saídas, tal como aquela em que disse que "logo em nova já tinha pensado muito em seguir a vida religiosa, batalhei com os meus pais, disse que queria ir para a casa das Irmãs, eles não queriam, mas decidi-me logo que era isto o meu sonho" e, ao perguntarmos quando foi esse momento-chave, responde "Ah, aos doze anos" ou outras como "Os meus irmãos quando estão com problemas pedem-me Oh Teresa, reza aí por nós, mas, oh, eu tenho mais que fazer" e "Esta vida não é uma cantiga, sabia? Não veem para religiosas só as pasmadinhas!"
Na Maxixe, comprámos também ingredientes para fazer bolo de iogurte em quantidade para mais de 80 crianças e para as titias. A tarde foi passada, consequentemente, na cozinha, na companhia das Irmãs, a labutar, conversar e trocar receitas. Como só cabia um bolo de cada vez no forno a gás e fizemos quatro, houve tempo para tudo. São estes momentos que tenho a certeza que vou levar comigo, quando já parece que as nossas tardes nunca foram diferentes disto, talvez por semelhança aquelas passadas com a minha mãe e avó.
Um dos bolos que fizemos foi de chocolate, para trazer aos Freis e à Dona Rosária, que desapareceu todo no fim do jantar! Aí, ouvimos mais mil e uma histórias vivamente encenadas por parte do Frei Filipe, bebemos a dose certa de preta (a melhor prevenção para a malária!), lamentámos deixar "os fradinhos pobrinhos outra vez sozinhos" (nas palavras dos próprios), e trocámos lembranças preparadas com a maior imaginação possível. Para acabar, também em beleza, faltou a electricidade, que funciona como os telemóveis, recarregando-se, e tivemos um fim de noite à luz das velas.
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