Maputo, Moçambique
17-4-2012
Estou em África. Nunca me imaginei poder dizê-lo aos 22 anos. 22 anos, 2 meses e 2 dias.
Estou em África, depois de ter vindo da Índia, outro sítio que é a viagem de uma vida. Ele há gente com muita sorte, não há?
Viemos em linha recta pelo continente africano desde Lisboa, em dez horas, apesar da diferença horária ser só de uma. Isto traz-me um grande alívio pois apercebi-me, há pouco tempo, que o jet lag e os seus efeitos maliciosos me adoram – mais especificamente as insónias – e o meu corpo e cabeça simplesmente não funcionam quando precisam de descansar.
Saídas do avião, nada me parece completamente estrangeiro. Olho em volta e vejo frases publicitárias como “Eu sou daqui” e pessoas que falam a minha língua. A nossa língua, que para mim, e não sou a única, é a minha pátria. Talvez por isso tenha um instinto que me vou sentir bem por aqui. Por outro lado, a humidade faz-se logo sentir por baixo das roupas demasiado quentes, apenas apropriadas para donde viemos, e que ainda mantemos, pois a ameaça de mosquitos paira nos nossos cérebros com tantos avisos vindos de casa; o tom de pele maioritário não é o meu; e há um cheiro adocicado e queimado a que provavelmente já me habituei passadas algumas horas, estando prestes a ir dormir. Estes são os sinais de chegada que não estou em casa e por essa mesma razão tudo vai passar muito rápido. É sempre assim. E tudo o que era novidade se torna “normal” (que palavra obscena!), o que era estranho se entranha (segunda referência pessoana, eu sei, vou tentar controlar-me) e daqui a nada esqueço-me que este sítio é único e estes momentos preciosos.
À saída do aeroporto, somos recebidos por um Frei Franciscano, muito novo, com os seus 30 anos, com um sorriso muito bonito e um riso contagiante que nos leva até à casa onde vamos dormir nas primeiras duas noites. Fico muito feliz por ver famílias reunirem-se, todos com cores tão diferentes. Para mim, é isto a civilidade e o que torna um país desenvolvido, mais do que estradas planas ou edifícios grandiosos. Dois cenários, esses, que não encontramos no caminho – as casas inclinam-se para o que em Portugal seria considerado uma barraca, com o que também vi na Índia de pinturas com cores muito vibrantes, na maioria a anunciar uma rede telefónica, uma bebida ou mesmo um detergente. A condução é à inglesa e a cidade pára às 22:30 já que o dia cá começa também muito cedo.
A casa Franciscana faz-me lembrar o colégio onde andei durante 5 anos e o cheiro também condiz. As mensagens de “Paz e Bem” imperam, com fotografias do Papa João Paulo II, que cá esteve. Oferecem-nos uma ceia onde a galinha é rainha, com arroz, batata, cenouras cozidas e mandioca. Provo esta última com um bocadinho de azeite – sabe a uma mistura de batata-doce sem a doçura, castanha sem ser tão intensa mas muito saborosa. Já me disseram que é esta raiz que há em abundância e que vai passar a ser nossa companheira. Óptimo!
Neste momento, escrevo no quarto onde estou sozinha, vizinha da Sofia e da Joana que ficaram juntas e, mais uma vez, sinto-me bem. Gosto muito deste ambiente de simplicidade compensada com ternura e quero viver a minha “experiência missionária”, como fala o Frei Vitor, e não estar aqui de maneira diferente dos que cá vivem. Sinto-me acompanhada por pessoas de bem, segura e em paz. Que mais se pode querer?
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