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domingo, 29 de abril de 2012

Moçambique #7

23-04-12
Os dias têm sido um turbilhão de emoções, mas outra coisa não seria de esperar. O estar deitada na cama é, para mim, o mais difícil. Invadem-me imagens violentas e cenários dantescos por causa das histórias dos missionários que foram mortos há uns anos aqui perto mas, mais ainda, daqueles que vemos nos filmes, com muita guerra e violência. Podia chutar isto para canto, mas prefiro aceitar que penso nisto e esperar que tudo corra pelo melhor, que melhores dormidas virão... Até porque estou aqui, não de férias, mas para viver como os locais, e os Freis estão sozinhos todo o ano. Mas não é a mesma coisa: somos as únicas brancas num raio de vários quilómetros, além da Irmã Teresa, e estão sempre a lembrar-nos que muita gente só vê cifrões em nós; é permanente as pessoas ficarem especadas a olhar, quer entremos num café, igreja ou mesmo dentro do carro; não temos os mais de 90 quilos e metro e oitenta dos Freis; estamos sempre a ser avisadas para trancarmos tudo, não andar nunca sozinhas, mostrar menos pele do que em Portugal, e por mais à vontade que eu me queira sentir, há sempre um sentimento de alerta. Cansa nestes primeiros dias, mas acredito que depois diminua e se instale a confiança.
Então hoje, o primeiro dia de aulas, foi precisa mais energia do que o costume! Conhecemos a escolinha, as três turmas, as titias (as professoras dos pequeninos) e estivemos com eles umas três horas. Fiquei com os de cinco anos, que já sabem o abecedário, alguns números e estivemos a cantar. Ensinei-lhes “A saia da Carolina”, já que foi a primeira música que apareceu no livro que a titia lá tem, e a brincar às apanhadas no recreio. Os miúdos são todos amorosos e tão bem comportados: esperam que todos se sentem antes de começar a comer no refeitório, nunca contestam a professora, cantam muito afinadinhos e respondem um “Está tudo bem, graças a Deus!” quando lhes perguntam como estão! Já estou a ver que vou querer levar todos para casa, apesar de saber que, pelo menos aqui na escola, são muito bem tratados.
Tenho que começar a relembrar-me de jogos que fazia em criança, preferencialmente gastando poucos recursos já que, mesmo o papel, devemos tentar poupar. Cantar é uma boa maneira de aprender qualquer coisa, ainda para mais com o batuque e as palmas, e podemos estar sempre no recreio, em que o chão é de areia e tem baloiços, escorrega, e outros entreténs. A Joana lembrou-se de fazer desenhos no quadro, na sala dela, para os miúdos adivinharem, o que é boa ideia. Amanhã vou tentar implementar o jogo da macaca!
Conversámos muito com a Irmã Teresa, que é uma mulher de armas, está cá desde 97 e antes esteve em Luanda, vinda directamente de Mirandela.
Tenho muito que aprender com a Irmã. Por enquanto vou ajudando naquilo que posso, em assuntos mais práticos. Ela precisa que façamos um cd de fotografias com texto e música. A Irmã já escreveu o que quer, e nós temos que tirar as fotografias, escolher a música e juntar tudo, isto para oferecer a várias pessoas como comemoração dos seus 50 anos de vida religiosa.
 Demos também uma voltinha pelos cafés e mercado vizinhos, onde se vende de tudo um pouco e encontrámos o fotógrafo que esteve no baptismo connosco.
Ponho-me a pensar na vida para que vou voltar e que não quero que esta vinda seja apenas mais uma experiência. Pelo contrário, quero que dê frutos duradouros e que influencie o meu percurso em todos os sentidos i.e. que a minha missão de vida tenha uma componente forte de missão. A vontade está lá toda mas também compreendo aqueles que desistem - não é fácil estar longe de tudo o que é confortável e dos que gostam de nós, ser olhado primeiro com desconfiança e sem qualquer promessa de sucesso. É preciso vocação, como em tudo.

1 comentário:

  1. Li as vossas notícias de que gostei imenso. Lembrem-se que eu estive numa escola onde a única branquela era eu e detestava a minha cor.
    Aproveitem a estadia como experiência única e voltem de coração forte sabendo que são umas sortudas porque pertencem a uma minoria de população do mundo que tem tudo e vivem queixando-se.
    Avó Isabel

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