22-04-12
“Fraternidade” é uma palavra cheia de poder e amor. É mais do que convívio, amizade e partilha, é o estarmos juntos numa caminhada, não querendo puxar para o lado da beatice, que nunca foi o meu forte. Sinto isso com certas pessoas mesmo estando em Portugal, e aqui com os Irmãos é algo que se desenvolve rapidamente. E tem-me parecido que acontece o mesmo com as comunidades que nos cercam. São 37 com um único pároco, o Frei Anselmo, um homem divertido e muito bom coração, que tem de servir a todas como pode e é sempre recebido com a maior das alegrias!
Hoje foi o caso, ao ir celebrar vários baptismos a uma terra chamada Bongo. Somos recebidos com uma verdadeira festa, com palmas, cantoria e dança, dos mais velhos aos mais novos. E foi só um anúncio de como iria ser a celebração, na capela mais artesanal que imaginar se possa, feita com chapa de metal, madeira e pregos. As músicas e a Bíblia são na língua local, o Guitonga e tudo o que era dito em português era depois traduzido, apesar da maioria dos presentes conseguir entender português. Receberem o baptismo, na maior parte, raparigas entre os 12 e os 17 anos, todas vestidas de cetim branco ou branco-pérola e sapatos também da mesma cor, de verniz. Foi a eucaristia mais animada a que assisti, com os batuques (feitos de latas de tinta vazias e uma pela de animal), o som dum instrumento com o mesmo efeito que as maracas mas como que espalmadas e rectangulares, gritos pelo meio das músicas, muito ritmo e dança - em que eu também entrei mas tenho muito que treinar! - em que o Frei Anselmo é um profissional. Demos o nosso primeiro testemunho que, por enquanto, consiste apenas em apresentarmo-nos e dizermos aquilo que sentimos que devemos dizer. Para mim, consistiu em dar os parabéns aos jovens em questão e tentar transmitir a sorte que tive em poder assistir e participar numa festa destas. Depois da festa, as famílias preparam ainda uma refeição com aquilo que têm mas, principalmente, o que não têm, e comemos um arrozinho com galinha guisada que estava muito apetitoso. Temos apenas que ter cuidado com a água, não faz bem aos nossos estômagos beber aquela a que eles estão habituados, mas tudo o que seja cozinhado não tem problema. Não consegui tirar a máquina da bolsa, ainda foi tudo um bocado “overwhelming”, à falta de melhor expressão, e prefiro ambientar-me primeiro para depois estar inspirada para fotografar e também por a Sofia e a Joana o terem feito.
Voltando à questão da fraternidade, é tão reconfortante ver como os mais novos tratam os mais velhos por aqui, sempre por “papá” e “mamã”, quer sejam da família ou não e nós também já tratamos todos assim tal como todos nos tratam por “irmãs” ou “manas”.
De tarde, houve tempo para apanhar um bocadinho de sol, pôr as leituras em dia e descansar, antes de acompanhar o Frei Anselmo nos seus afazeres à cidade. Conhecemos também o seminário com o Frei François, um congolês adepto do Chelsea, do Real e do Barça que cá está há quase dois anos.
Hoje preciso mesmo de dormir, depois de ter andado a conduzir-nos pelas estradas moçambicanas de noite – uma tarefa que exige muita concentração por causa dos buracos, areias, arbustos, lombas, peões à beira da estrada, inexistência de iluminação, o facto de haver sempre só uma faixa estreita, da condução ser à esquerda tal como as mudanças e dos máximos que os outros carros insistem em manter quando estão de caras connosco - e até ter sido apanhada pela polícia a fazê-lo (sem carta, pois).
Os nossos camaradas continuaram viagem mas deixaram-nos os contactos e muito bem entregues.
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