20-04-2012
Um dos temas de conversa permanentes é a malária. Doença que não tratada se torna fatal, é facilmente confundida com uma gripe mas é transmitida através de um certo tipo de mosquito. Quem vem para África é avisado constantemente como prevenir, já que muita gente morre dela, mas é porque as pessoas simplesmente não têm os comprimidos para tomar pois se os tivessem, em dois três dias ficam curadas… Nós, para não apanharmos, andamos com pulseiras, sprays, tomamos comprimidos e mesmo assim quando vemos um mosquito fugimos como o diabo da cruz! Já ouvimos histórias de um que esteve cá quatro anos e só quando voltou para Itália é que apanhou; vários miúdos que não têm medicação e acabam por morrer; o Frei Vítor que cá esteve 7 anos e nunca teve; outra que é simplesmente imune; mas a minha preferida, nas palavras do Frei Filipe, foi “uma freira velhinha que pulverizou o quarto com Baigon antes de ir dormir e, de manhã, acordou no céu!”.
A malária é paralela à situação da diferença humana que sinto estando cá: ninguém sabe quem vai ser afetado, neste caso, por nascer numa condição melhor ou pior. Nós não temos mérito nenhum em ser mais ou menos desenvolvidos, em viver em casas mais confortáveis ou ter estudado durante mais anos. Muitas vezes, dou por mim a pensar que tenho que vir ensinar, educar, criar bases para a sustentabilidade mas, de verdade, que percentagem disto me é imputável? Tenho consciência que escolho pouco daquilo que sou, quer seja por onde nasci, por quem conheci ou por que oportunidades tive mas tenho a liberdade de o aceitar ou querer diferente. Por vezes, a simplicidade é o caminho mais difícil e é o que tenho retirado do convívio aqui em Inhambane.
Hoje estivemos em sítios estonteantes, como a Baía de Inhambane que, com a companhia de uma casquinha (camarão com açafrão, pão, ovo e outras especiarias) e uma preta (cerveja) não podem deixar ninguém indiferente e passámos depois para o outro lado, por 10 meticais, com as pessoas que fazem este percurso todos os dias e, obviamente, já achamos curioso é ver um branco por estes lados e, oh, também muito brincam os moçambicanos negros connosco quando nos vêem!
Estivemos também na escola onde vamos começar por dar apoio, aqui em Jangamo, liderada pela Irmã Teresa. A escolinha é a coisinha mais querida, vê-se que está muito estimada, tendo sempre em conta quanto se recebe e gasta, nada é desperdiçado. A Irmã é das pessoas mais despachadas que já conheci na minha vida, fez-nos o tour completo a explicar cada pormenor. Vamos estar com 80 meninos e meninas, entre os três e os cinco anos, que entram às sete da manhã e saiem pouco depois do meio-dia, com um lanchinho pelo meio. A irmã mostrou-nos as salinhas, o recreio, as árvores que têm e disse que cada família deve pagar à volta de 150 meticais por mês de maneira a criar um modelo sustentável e, quando ela já lá não estiver, ninguém seja mal habituado a que depois todos os serviços escolares funcionem de borla, porque assim ninguém volta a pegar no ensino por aqui. Acho que nos vamos dar muito bem, estou ansiosa que comece a escola!
Demos também um salto a Homoíne, onde vamos estar depois, já com jovens, liderados pelo Frei Viegas. Fiquei impressionada com o tamanho da missão e de todos os serviços que disponibiliza, entre oficinas, enfermaria, lar, catequese, escola… É impressionante ouvir os relatos do que havia aqui no passado e que se vê, pelo tamanho e número de casas existentes e que agora estão vazias. É uma pena que não se tenha continuado com a mesma força algo de valor como esta missão, pelas mais determinadas razões que mais tarde vou querer aprofundar. De qualquer maneira, foi um deleite conhecer as “velhinhas”, como lhes chamam, que vivem juntas com algumas crianças e encontrámos a preparar o almoço. Os “velhinhos” estão noutro sítio já que, nas palavras do Frei Viegas, “sabe-se lá o que aconteceria se se juntassem os dois!” Eu não estou a ver grande alvoroço a vir daí, mas ele lá sabe!
E como não podia deixar de ser, as novidades culturais são sempre muitas e hoje foi provar cana-de-açúcar e sumo de concentrado de maracujá, tudo natural e delicioso; ver videoclips de dança do Zimbabué e o reggae do Lucky Dube, de quem todos os Irmãos parecem ser fãs!
Utilizando a melhor expressão que tenho ouvido até hoje de despedida e a mais comum aqui,
Estamos juntos!
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