Páginas

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Moçambique #9


25-04-12
Estou a começar a sentir-me em casa, no meio de tudo o que é estranho. Nunca tive dificuldade em adaptar-me à mudança mas o processo é ainda mais rápido se faço amigos pelo caminho.
Os miúdos já se abrem comigo, isto é, já recebo mais que um sorriso envergonhado e um grunhido do que poderá ser o nome deles, à terceira tentativa. Já querem andar de mão dada comigo, sentar-se ao meu colo, mostrar-me os sapatos que trazem e a pasta e explicar quem lhas ofereceu. Na sala de aula, cantámos o “Eu vi um sapo” acompanhado com o batuque da Titia Sara, contámos histórias, desenharam (anda sempre à volta de maçãs, bananas, laranjas, carros, maçarocas, aviões e flores) e escrevi com eles aquilo que tinham desenhado. No recreio, estão mais à vontade e vêm ter comigo para me mostrar as bolachas e as pipocas que a mamã mandou, mexer no meu cabelo e nos óculos de sol e comparar as minhas mãos com as deles. Todos estes miúdos são muito dados e carinhosos, mesmo os que possam ser mais tímidos.
Em casa, já comecei a lavar a roupa no tanque com a ajuda das mamãs – que muito se riram, à custa da minha falta de prática -, estive a ajudar na cozinha com o jantar, a Sofia foi com o Damião e o Eufrásio - os outros dois aspirantes além do Clayton – ao Salão de Beleza Nita para o primeiro rapar o cabelo e até estive, com a Joana, a dar voltas à casa a correr e a fazer exercícios de resistência. Os vizinhos estiveram entretidos durante uma horinha a olhar para nós, como se pode imaginar.
Tomo banho de água fria com um balde, durmo com rede mosquiteira por cima, como cana-de-açúcar e castanha de cajú como quem não precisa de mais nada, osgas de dez centímetros e bichos a cair do tecto directamente para o prato da fruta já não despoletam qualquer reacção… Só ao início é que há choque, passada uma semana é um gasto de energia preocupar-me ou tentar imaginar a próxima surpresa.
Mas, sem dúvida, o positivo ultrapassa todas as expectativas, desde os pitéus preparados com muito amor pelas mamãs ao Frei Filipe a planear e executar meticulosamente a plantação de mais uma árvore como se dum filho se tratasse; haver um convívio muito saudável com galinhas, vacas e cabras diariamente; o céu, meu Deus, o céu! de noite com mil e uma estrelas e de dia com as nuvens e azul mais perfeitos; os dentinhos de leite dos miúdos…
Com uma nova família como esta, torna-se tudo mais confortável.

Sem comentários:

Enviar um comentário