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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Moçambique #23


09-05-12

Já está tudo preparado para a semi-despedida amanhã dos miúdos, em que vamos entregar os saquinhos-presente. Hoje deixei uma dedicatória muito simples a cada um no seu caderninho. Pergunto-me se vou ver algum deles mais alguma vez ou ter qualquer notícia? Não que isso provoque em mim qualquer sentimento negativo, já sabia que assim o era, estou apenas curiosa...

Os Freis queriam muito que visitássemos a missão em Mucumbi, a duas horas daqui que, para eles, não é nada longe. Apesar de ser a última semana aqui em Jangamo e querer estar o máximo de tempo por estas bandas, gostei muito de lá ir. Uma hora até Inharrime e meter depois uns 40 quilómetros para dentro do mato, em estradas (ainda) mais acidentadas que o habitual, que equivale a mais sessenta minutos de solavancos. Desta vez, com quatro pessoas atrás! Lá chegados, a entrada é triunfal com um caminho comprido ladeado por coqueiros gigantes em linha recta e, ao fundo, a igreja em branco e azul, imaculada. As fotografias falarão melhor.

É uma missão de início do século passado, afastada de tudo e todos, mas que conseguiu agregar uma mini-comunidade. É composta por uma escola secundária, maternidade, clínica de saúde, refeitório e alojamento para os que lá trabalham e para os estudantes. Está bem conservada e tem muitos alunos, tendo retomado actividade a seguir à guerra civil.

Eu percebo que os Freis nos queiram dar a conhecer outros sítios aqui à volta. Eles sentem que as outras missões são apenas mais divisões, que também merecem atenção, de uma enorme casa que são os Franciscanos em Moçambique. É muito interessante para nós e cada missão sente que não está esquecida, que há uma posssibilidade de espalharmos mensagem e vir mais gente para ajudar. Este era mesmo um sítio isolado mas que deve proporcionar uma experiência inesquecível com tanto trabalho concentrado, com o mato e o rio Inharrime à vista.

Que o Frei Filipe é inseparável da sua moringa, a planta seca que "faz bem a tudo", já nós sabíamos. Desconhecíamos era o seu grau de conhecimento e fé em tudo o que é medicina natural. Hoje ouvimos falar de outros pózinhos milagrosos que ele insiste que experimentemos. Passando a citar: moringa é obrigatório levarmos, podemos apanhar aqui na vizinha e secar ou comprar na farmácia quando formos ao Chimoio; Aloé, uma mistura de mel com folhas de aloé que ele jura que umas Irmãs usaram numa senhora com sida e que ela ficou curada e que a nós também há-de fazer bem; e Ngoka, umas saquetas que se importam da Tanzânia e que curam mais de cem doenças, cancros incluídos - tomou quando tinha problemas de tensão e "ficou sem ela"; e quando estava com grau um de hemorróidas e os médicos disseram que devia esperar até ao grau três para ser operado mas tomou Ngoka e já não tinha mais a dita cuja. Isto tudo à mesa, entre muita risada, mas a promessa que íamos tomar pelo menos um deles. À noite, mostrou-nos um livro intitulado "A farmácia natural" escrito por uma Irmã e que, resumindo, também tem cura para tudo. Vou fotocopiar, mal não há-de fazer.

A vastidão desta terra, as nuvens perfeitas e o tamanho das copas das árvores ainda não deixaram de me impressionar.

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