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terça-feira, 8 de maio de 2012

Moçambique #19

05-05-12
Mata-bichámos com as Irmãs cá em casa e estava guardada a promessa das mamãs para hoje fazermos matapa! Prato que, teoricamente, podia demorar meia-hora, aqui, foram três. Tudo feito do zero que depois compensa na intensidade de sabores. Primeiro, é preciso apanhar as muitas folhas de mandioca e descascar alhos, esses que têm menos de um centímetro já que não se dão aqui, e demora algum tempo. São depois esmagados, juntamente com as folhas, num pilão de meio metro de altura em que se ganha músculo imediato tal é o peso do mesmo e força que se tem que fazer! Leva-se essa pasta ao lume, com água, até ferver, que tem de ser alimentado a lenha e que nós ainda não nos aventurámos a tentar acender. Vão-se preparando os côcos, que precisam de ser apanhados, abertos e ralados, num banco próprio com uns dentes pregados, e que já aprendemos a técnica. Coa-se depois o côco ralado para usar apenas o leite, misturado com amendoim também ralado, cebola e tomate. Tudo isso vai depois a juntar ao preparado que está ao lume até ferver. Pode-se também juntar algum tipo de marisco, e a mamã  pôs uns caranguejos pequeninos que cozeu. É o prato típico de várias zonas circundantes e acompanha com xima, um puré de farinha de milho e água.
Raramente vemos sobremesas mas, hoje, as mamãs fizeram uma para dar as boas-vindas ao Frei Filipe que voltou do Maputo, como todos dizem, e fez morina, de farinha de mandioca torrada, amendoim e manteiga. Sabe a manteiga de amendoim mas a farinha dá-lhe um toque... peculiar, digamos. Peculiaridade essa que me partiu metade de um dente há uns dias atrás.
Já me tinha apercebido que a electricidade aqui também era especial enquanto estava a passar a ferro e o ligava, a luz ficava mais fraca na sala ou mesmo quando queria carregar o computador na ficha tripla compartilhada com o DVD, e este último deixava de funcionar. O fenomeno tem-nos atingido directamente, ao pifar o meu computador, o da Sofia e o telemóvel da Joana.
Nada que nos tire entretém, antes pelo contrário. A Sofia esta empenhadíssima em criar obras-de-arte com a madeira do côco. Eu fico-me por fazer taças deles. Preenchemos também umas folhas nos cadernos que vamos dar a cada miúdo, entre desenhos para eles pintarem e umas fichas de identidade, em que vão pôr a impressão digital, nome, idade, comida, cor, brinquedo preferido... Os cadernos são todos alusivos a jogadores da bola, o nosso Cristiano incluído. Era isso, ou o presidente estampado com um ar assustador.
Eu e a Sofia ainda demos um saltinho à vila, para comprarmos as pipocas dos miúdos, e acabámos num 'bar' memorável, onde as vendiam. Era um coberto de cimento, por falta de melhor maneira para o descrever, que tinha uma mesa de refeição e alguns començais, uma mesa de bilhar e três homens a beber uma Laurentina ao balcão, onde vendiam de tudo um pouco, pipocas incluídas. Em frente, uma mini-van com aspecto mafioso a bombar música psicadélica.
Logo os três meteram conversa, perguntaram tudo quanto quinze minutos de conversa permitem. Linhas gerais era sermos todos irmãos, que tínhamos um ar muito novo, que o Marcelo Caetano já cá tinha vindo, que os brasileiros nao têm nada a ver connosco, nós é que somos irmãos de origem e que estávamos convidadas a frequentar a sala de espectáculo deles, a discoteca, sempre que quiséssemos. Nas palavras da Sofia, "não desmentiu" que era freira e eles perguntaram se, ainda assim, lá podíamos dar um saltinho mais tarde.

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