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terça-feira, 1 de maio de 2012

Moçambique #11

27-04-12
What a day.
Acordei preocupada ao ver que não tinha Mephaquin, para a malária, em quantidade suficiente até ao fim dos dias aqui. Valeu-me o excesso que a Sofia trouxe!
Estivemos com os miúdos no recreio - a 6ª feira é passada ao ar livre - e tirámos uma grande fotografia de grupo, deles com as titias e as Irmãs. Passámos num café vizinho, a Pousada de Cumbana, em que a dona é tia da Mariza fadista, que visita a tia Marta sempre que vem a Moçambique. Estivemos também com uma empreendedora aqui da zona, a Mamã Rute, que tem todo o tipo de fruta no seu terreno e é uma grande amiga dos Franciscanos de cá.
Já sabia que a seguir íamos visitar a Irmã Adriana, enfermeira angolana, ao hospital de Cumbana, onde é a escolinha, mas nem sequer pensei muito nisso nem achei que me tinha de preparar emocionalmente. Também acho que não teria valido muito a pena. Sou daquelas maricas que ficam agoniadas só de pensar em ir a uma consulta, que não conseguem olhar para as seringas quando levam uma vacina e que quase desmaiam quando vêem sangue mas penso que mesmo que não fosse, teria o choque que tive na mesma, hoje. 
O hospital… são várias casinhas espalhadas por um terreno, algumas mesmo palhotas, com o mínimo de tudo para funcionar. O mínimo de pessoal, de material, tudo. Há a casinha das consultas, a primeira onde entrámos, e onde a Irmã Adriana estava a tratar um bebé que tinha caído de cara num balde de água a ferver e estava a renovar os pensos. O bebé só conseguia gritar e chorar, ao tirarem-lhe a gaze que cobria a cara toda, sem qualquer tipo de anestésico. Essa casinha tinha cerca de 100 pessoas sentadas cá fora à espera de entrar, com uma enfermeira e uma técnica disponíveis.
Duas tendas grandes e brancas são a maternidade, já que o antigo edifício desta está a ser arranjado. Lá encontrámos um bebé que tinha nascido durante a manhã, a mãe não devia ter mais de 16 anos e, a fazer-lhe companhia, outra criança de uns 12 anos. Há também a casinha da farmácia, da vacinação e uma outra que acolhe futuras mães, que moram longe e estão a menos de um mês do parto, e ficam ali no hospital até terem a criança.
É doloroso pensar que há opções tão escassas para estas pessoas quando estão perante a doença, o quão fácil é morrer por falta de tão pouco nesta terra… Mas o choque tem que ser transformado em acção e para a semana vamos passar a ajudar também no hospital. Tem que ser. Não sabemos fazer muito mas tudo é melhor que ficarmos paradas.
Tenho uma nova heroína, esta Irmã Adriana, que criou todo este espaço do zero para acolher, principalmente, mães e filhos que precisem e que, de outro modo, não sei mesmo o que fariam. Trabalha todo o dia no hospital, lida com a miséria e enfermidade e, mesmo assim, quando às vezes vem almoçar connosco, mostra a maior leveza de espírito, energia e bondade.
Eu tenho muita sorte de a ter conhecido e espero poder contribuir, provavelmente só uma migalha, para o sonho que ela teve e está a tentar tornar realidade.

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