17-06-2012
Um dia digno de ser o último foi o que
planeámos e executámos, apesar do melhor vir sempre sem avisar.
Voltámos à feira de artesanato, pois as
meninas tinham ouvido falar dos batiks: um pedaço de pano branco onde desenha
um artista e vai-se mergulhando em tinta de determinada cor para depois
bloqueá-la, com cera, a parte que queremos manter assim. Enceramos logo no
início aquelas que queremos manter brancas e vai-se mergulhando em várias cores
e encerando. Os padrões são tudo aquilo que tenha um toque africano. E como o
mundo não é maior que uma castanha de caju, encontrámos a Viki, que conhecemos
em Homoíne, nas redondezas.
Siga de riquexó para a praia que nos
disseram ser a melhor, a Marés, na Costa do Sol, a 5 quilómetros da casa. Em
termos de beleza natural já sabíamos que não ia ser espectacular mas amei as
horas lá passadas. Quase todos os portugueses estavam na esplanada mas esta
tinha uma estrada à frente e só então a praia. E como nós já somos praticamente
moçambicanas, quisemos o real deal.
Abastecemo-nos com um papo seco enorme e quentinho, do centro comercial colado,
mais uma coca-cola, e fomos estender as capolanas em frente às dezenas de
barracas a vender frango de churrasco e batata frita (aqui pouco existe o
conceito de diferenciação), às cadeiras e mesas de plástico e aos comensais
locais. Estivemos sempre a mudar de spot porque a maré não parou de subir e
cedo não havia espaço para nós e os que queriam jogar à bola! Os miúdos tomavam
banho de roupa, os mais velhos bebiam Laurentinas e estas (na praia ainda mais)
branquinhas de papo para o ar, como se nunca tivessem estado noutro lugar. Fez-me
gostar ainda mais deste país, sentir-me em casa num Domingo à tarde entre
amigas.
O fim de dia foi passado em “até já”s,
presenciais, telefónicos e escritos, e a fazer a mala.
No aeroporto, encontrei os maiores
atrasados até à data, começando pelo segurança do raio X, que
perguntou se eu não lhe queria deixar os meticais que me tinham sobrado,
passando pelas funcionárias de todas as lojas que não tinham troco e achavam
isso normalíssimo, e acabando nos quatro do posto de controlo dos passaportes,
que me gozaram à força toda e ameaçaram de multa por causa do visto que tinha
expirado ontem. Vão-se fumar, como gostam de dizer! Enfim, valeu a vitória de
Portugal a que assistimos com os outros viajantes nos ecrãs espalhados por lá!
Não gosto de conclusões, de resumos, nem
de melancolias mas este relato tem que acabar neste dia de regresso. Sei que
Moçambique não me vai sair dos ossos e as lições a tirar se devem repercutir
para o resto da minha vida. Não me cabe a mim ter já noção de quais as são mas
ao tentar deixar aquilo que trazia comigo, levo lembranças de valor
incalculável, caras muito amigas, mensagens poéticas no telemóvel e muita,
muita dança e alegria. Não há como negá-lo, esta malta dá aquilo que não tem,
através duma maneira de viver mais simples que a nossa mas dando valor ao que
interessa. Vou com uma pitada de maturidade mas de consciência duma enorme inexperiência
em relação a tudo. É como se se tivesse aberto mais uma porta para mim. Vou, mas
sabendo que na ida está sempre latente um regresso.